No dicionário a palavra cínico significa: desavergonhado, debochado, sem escrúpulos, sem pudor, descarado,
carrega um sentido pejorativo, depreciador, e muitas vezes ouvimos, ou nós
mesmos proferimos o comentário desabonador: “aquele
sujeito não passa de um cínico”, pois hoje casualmente assistia um professor
falando sobre a história antiga, relatando o surgimento do Movimento Cínico, quase
fui as lágrimas, finalmente me encontrei, me ergui exultante e senti a necessidade
de afirmar em alto e bom som: “definitivamente
sou um cínico”, mas por favor na me interpretem mal, eu explico.
Primeiramente percebam que o sentido da
palavra e de sua conceituação foi alterado, que isso se deve em minha opinião a
permanente manipulação dos processos históricos, sempre segundo algum interesse
dos grupos dominantes, senão vejamos: Diógenes
de Sínope foi discípulo de Antístenes
que por sua vez foi discípulo de Sócrates.
Diógenes tornou-se a figura marcante do movimento
cínico, com o passar do tempo acabou rompendo radicalmente com o mundo que o
cercava, considerava que o estado de natureza, que se pode reconhecer no
comportamento dos animais ou das crianças, é superior às convenções da civilização. Desta concepção filosófica origina-se o
termo cinismo que deriva da palavra grega kynikos, que é a forma
adjetiva de kynon, que significa cão,
animal que sempre lhe acompanhava e que ele considerava como um modelo de vida:
simples, honesto, sem constrangimento, nem ansiedade, acabo de reconhecer,
talvez o primeiro cinófilo, respeitando à origem do vocábulo como também um dos
precursores do pensamento libertário na história.
Na Grécia antiga o cínico não se ocupava absolutamente com as conveniências sociais e a opinião, desprezando o dinheiro, não procurando nenhuma posição estável na vida, possuindo apenas o estritamente necessário para sua sobrevivência. Sem casa, nem cidade, nem pátria, miserável, errante, rejeitando as condições indispensáveis da vida em sociedade, a propriedade, o governo e a política, exprimia-se com provocadora liberdade de expressão, sem temer as autoridades, sua visão filosofia é uma escolha de vida, a escolha da liberdade, da total independência das necessidades inúteis, recusa o luxo e a vaidade para conquistar a liberdade, e independência, é uma força interior, onde a ausência de cuidados produz a tranquilidade de uma alma capaz de se adaptar a todas as circunstâncias, considerando que os artifícios e as comodidades da civilização enfraquecem o corpo e o espírito.
Na Grécia antiga o cínico não se ocupava absolutamente com as conveniências sociais e a opinião, desprezando o dinheiro, não procurando nenhuma posição estável na vida, possuindo apenas o estritamente necessário para sua sobrevivência. Sem casa, nem cidade, nem pátria, miserável, errante, rejeitando as condições indispensáveis da vida em sociedade, a propriedade, o governo e a política, exprimia-se com provocadora liberdade de expressão, sem temer as autoridades, sua visão filosofia é uma escolha de vida, a escolha da liberdade, da total independência das necessidades inúteis, recusa o luxo e a vaidade para conquistar a liberdade, e independência, é uma força interior, onde a ausência de cuidados produz a tranquilidade de uma alma capaz de se adaptar a todas as circunstâncias, considerando que os artifícios e as comodidades da civilização enfraquecem o corpo e o espírito.
Por breves instantes delirei
repleto de felicidade, finalmente após transitar por tantos caminhos
dolorosamente tortuosos, havia encontrado repouso na filosofia cínica, mas
durou pouco, lembrei-me infelizmente que tenho tentado sobreviver como artista,
num país que dedica a seus artistas em sua grande maioria a situação que era
almejada pela escola filosófica e que hoje é uma trágica realidade, viver de
arte é estar condenado à miséria e abstração sem nenhuma independência, nos
condenando a uma vida errante que provoca na maioria das vezes mais dissabores
que o deleite prazeroso da filosofia, fiquei revoltado, isto não lhes parece o
mais puro cinismo? Tal qual a palavra significa na atualidade?
Texto: André Soares
Fotografia: Robert Doisneau
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