sábado, 27 de novembro de 2010

Cor lilás


Lilás,
Ela não vê a cor que tem,
e há os que não têm cores,
e desses tem bastantes.
Ela não ouve, não grita!
Mas sei,
que consegui sentir o toque, o calor e o amor.
Como é triste não ver,
como é importante gritar!
Mas o pior nesse mundo é não sentir,
não ter cor,
ser preto e branco fica bonito só em fotografia.
Hoje só quero escrever para você,
que não é o meu amor, pétala da flor, que resiste a minha palidez.
Mas escrevo para você, que não conheço,
mas sei,
que sabes como ninguém o cheiro da flor.

Para todas as pessoas com necessidades especiais que são ignoradas pelo sistema.
Poema e fotografia: Rodrigo Vargas Souza

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Qual a tua personalidade?


“Meu teatrinho tem tantas portas de palco quantas queiram, dez, cem ou mil, e atrás de cada uma espera-lhes precisamente aquilo que andam a buscar. É uma formosa lanterna mágica, meu caro amigo, mas de nada valerá recorrer a ela nas condições em que se encontra. Você se veria impedido e deslumbrado por aquilo a que se acostumou chamar de sua personalidade. Sem dúvida já terá adivinhado há algum tempo que o domínio do tempo, a libertação da realidade e tudo aquilo que deseja chamar de seu anseio, não significa outra coisa senão o desejo de libertar-se de sua chamada personalidade. Tais são as prisões em que você se encontra. E se entrasse neste teatro assim como está, assim como é, acabaria por ver tudo com os olhos de Harry, com os velhos óculos do Lobo da Estepe. Por isso, convido-o a despojar-se desses anteparos e deixar no vestíbulo a sua honrada personalidade, onde estará à sua disposição a qualquer momento que assim o desejar. (...) Você vai entrar agora, sem receio e com verdadeiro prazer em nosso mundo visionário; conseguirá isso por meio de um suicídio aparente, de acordo com o hábito. (...) Mas, naturalmente, seu não é definitivo, de maneira alguma; estamos num teatro mágico, onde tudo não passa de símbolos, onde não existe nenhuma realidade.”

Texto: trecho de “O Lobo da Estepe” de Hermann Hesse
Foto: Rosário do Sul - RS - Rodrigo Vargas Souza

Êxtase, orgarmos cósmicos e algodão doce...

(para ampliar clique na imagem)

"Não existem livros sobre êxtases e orgasmos cósmicos escritos por cientistas, somente narrativas orais e poesia. Os livros de história são sobre eventos públicos insignificantes como guerras, eleições e revoluções. As únicas coisas importantes acontecem nos corpos e cérebros dos indivíduos."

Texto: Neal Cassady - poeta beat
Foto: Redenção - POA - 2010 - Rodrigo Vargas Souza

domingo, 21 de novembro de 2010

Conspirações de Palavras


Conspirações de palavras
Já ditas
Ouvidas
Sussurradas
Num ouvido morto
Que não as entende
Não as escuta!
Palavras cruzadas
Palavras trocadas
Confusões de letras
Querendo talvez
Dizer alguma coisa
Palavrinhas doces
Palavrinhas suaves
Tentando expressar sentimentos
Puros, fraternos
Micro-relações
Palavras com base
Em um contexto
Palavras sem medo!
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Poema: Emm@
Imagem: Arberto Jacob

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

As flores de plástico não morrem... mas também não vivem !!!

Não há nada a lamentar sobre a morte, assim como não há nada lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam até a sua morte.


Texto: Charles Bukowski
Foto: Rodrigo V Souza

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A GRADE, O MEDO E A CHAVE


As grandes metrópoles do mundo ocidental possuem uma característica comum, cada vez mais concebem o espaço urbano num requinte comparável por vezes aos Campos de Concentração, seus centros de compras, conjuntos habitacionais, flats, condomínios fechados, vilas, favelas refletem o que Emma Goldman alertava que o ser humano devido às circunstâncias se tornaria “uma figurinha nas mãos desta onipotência metafísica que se chama determinismo econômico, mais vulgarmente luta de classes”. Esta absurda situação provoca o surgimento do que podemos convencionar de guetos urbanos, ou seja, de acordo com o fator econômico os níveis e padrões de consumo determinam a ordem social e a ocupação dos espaços físicos da cidade que fragmenta seus processos alijando seus habitantes do convívio e pleno exercício da vida comunitária integral. A extrema miséria ocupa seu espaço nos sinais de trânsito, se prostitui, droga-se e rouba, vive nas pontes elevadas favelas representa enorme e constrangedora ameaça as demais classes sociais oponentes na disputa de território e poder. O medo é uma instituição estampado nos rostos e refletido no comportamento geral afastando os seres criando um ambiente paranóico e tenso alimentado por uma mídia predadora que em tempo real reproduz estas micro-realidades maximizando o pânico coletivo que imobiliza a sociedade de forma preocupante. Estamos replicantes, talvez influenciados pela ficção nos convertemos em atores de nossa própria existência e não autores, hoje idolatramos os paradigmas da era tecnológica que acabou nos transformando em alguma coisa proto-humana onde o sintético criou vida e assumiu o controle da situação. Mas em algum lugar ainda obscuro escondida encontra-se a chave mestra da mudança, esta lá esperando a mão que lhe tomará e abrirá um novo campo para uma vida menos sintética, mais natural voltada para o equilíbrio permanente. A perspectiva para alcançar esta condição de sociedade passa por adotar princípios de convívio voltados para valorizar o humano em cada um de nós, e não autômatos consumidores compulsivos dos “avanços” da civilização. Direcionando o olhar ao futuro percebemos que pela arte a cultura e a educação finalizaremos a jornada trataremos as chagas sociais e na cura exercer o direito fundamental: viver com dignidade.
Texto: André Soares
Foto: Horpker ( clicar em cima da imagem para ampliar)

As Ruas, Seus Mundos e Suas Entranhas


Fato peculiar do fenômeno humano é a capacidade instintiva de sobrevivermos recriando e adaptando o viver de acordo com as necessidades do momento.
Outro dia num vagão de trem presenciei uma cena que me deixou pensativo, surgiu uma figura fora dos padrões com um skate, o sujeito mais velho vestido como garoto trazia no bolso uma gaita de boca, logo entrou um jovem ouvindo um hip hop bem alto, ainda tinha outro grupo possivelmente religioso, parei para analisar aquele momento, num espaço exíguo encontrava-se as manifestações paradoxais da sociedade , comum nas grandes metrópoles do país.
A cena foi monumental, o skatista transformou-se com o som do hip hop, sacou de sua gaitinha num improviso eufórico aproximando-se do jovem que estava com celular em riste símbolo do seu enfrentamento cultural diante dos incomodados passageiros.
Ali se estabeleceu um confronto nem tão silencioso, chocou-se a multiplicidade de comportamentos que formam o tecido, já cheio de buracos, o tecido social. Manifestaram-se de formas diferentes os usuários do trem, uns sorriam, outros se mostravam indignados com aquela demonstração de pouco caso com sua tranqüilidade, sentindo-se agredidos por tamanha demonstração de indiferença.
Indiferença é a palavra que se encaixa naquela cena, os protagonistas não davam a mínima para a opinião alheia, som, comportamento alterado, skate e gaitinha de boca formavam um quadro de enfrentamento aos comportados e conformados cidadãos no seu deslocamento num domingo à noite qualquer.
Numa visão poética a cidade pode ser comparada a uma flor com pétalas coloridas e aromáticas que nos encantam, também com seus espinhos prontos a nos machucar, numa visão mais crua a cidade reflete o interior dos seus habitantes, hoje prisioneiros desse modelo que prega e interna os seres em conjuntos habitacionais, centros de lazer, shoppings, voltamos a caverna profetizou Saramago, só desfrutamos da liberdade com total segurança, normalmente paga.
Situação estranha essa, nos fim de semana os humanos radicados nas grandes cidades disputam os espaços públicos numa verdadeira catarse coletiva em busca do contato com a natureza, reminiscências diria Platão
No passado fomos naturais, mas nos desconectamos em algum momento já esquecido, na atualidade não temos tempo à agenda não permite este deslize, adiamos até o domingo, mas tem aquele...
A sociedade criou seus delitos suas prisões suas concessões, suas corporações sua estética sua ordem e seu comportamento e num requinte tecnológico aprisionou-nos a um vídeo um teclado e uma cadeira nos afastando das ruas e até do sol, tempos modernos em que caminhar no campo, molhar os pés na água daquele riacho transforma-se numa metáfora ficcionista.
Uma pergunta permanece sem resposta será que o cidadão comum tem todas as suas aspirações atendidas pelos padrões em que vivemos, será que uma simples demonstração pública do comportamento de grupos sociais com outros valores choca agride ou incomoda pelo fato de negar o comportamento dito normal? Será que retornaremos ao caminho do simples mais adequado ao gênero humano?

Texto: André Soares
Fotografia: Horpker

Desobediência: A virtude Original do Homem

Imagen: Marc Ribaud (para ampliar clique sobre a imagem )
Texto: Oscar Wilde
(em The Soul of Man under Socialism, 1891)
Pode-se até admitir que os pobres tenham virtudes, mas elas devem ser lamentadas. Muitas vezes ouvimos que os pobres são gratos à caridade. Alguns o são, sem dúvida, mas os melhores entre eles jamais o serão. São ingratos, descontentes, desobedientes e rebeldes - e têm razão. Consideram que a caridade é uma forma inadequada e ridícula de restituição parcial, uma esmola sentimental, geralmente acompanhada de uma tentativa impertinente, por parte do doador, de tiranizar a vida de quem a recebe. Por que deveriam sentir gratidão pelas migalhas que caem da mesa dos ricos? Eles deveriam estar sentados nela e agora começam a percebê-lo. Quanto ao descontentamento, qualquer homem que não se sentisse descontente com o péssimo ambiente e o baixo nível de vida que lhe são reservados seria realmente muito estúpido.
Qualquer pessoa que tenha lido a história da humanidade aprendeu que a desobediência é a virtude original do homem. O pregresso é uma conseqüência da desobediência e da rebelião. Muitas vezes elogiamos os pobres por serem econômicos. Mas recomendar aos pobres que poupem é algo grotesco e insultante. Seria como aconselhar um homem que está morrendo de fome a comer menos; um trabalhador urbano ou rural que poupasse seria totalmente imoral. Nenhum homem deveria estar sempre pronto a mostrar que consegue viver como um animal mal alimentado. Deveria recusar-se a viver assim, roubar ou fazer greve - o que para muitos é uma forma de roubo.
Quanto à mendicância, é muito mais seguro mendigar do que roubar, mas é melhor roubar do que mendigar. Não! Um pobre que é ingrato, descontente, rebelde e que se recusa a poupar terá, provavelmente, uma verdadeira personalidade e uma grande riqueza interior. De qualquer forma, ele representará uma saudável forma de protesto. Quanto aos pobres virtuosos, devemos ter pena deles, mas jamais admirá-los. Eles entraram num acordo particular com o inimigo e venderam os seus direitos por um preço muito baixo. Devem ser também extraordinariamente estúpidos. Posso entender que um homem aceite as leis que protegem a propriedade privada e admita que ela seja acumulada enquanto for capaz de realizar alguma forma de atividade intelectual sob tais condições. Mas não consigo entender como alguém que tem uma vida medonha graças a essas leis possa ainda concorda dar com a sua continuidade.
Entretanto, a explicação não é difícil, pelo contrário. A miséria e a pobreza são de tal modo degradante e exercem um efeito tão paralisante sobre a natureza humana que nenhuma classe consegue realmente ter consciência de seu próprio sofrimento. É preciso que outras pessoas venham apontá-lo e mesmo assim muitas vezes não acreditam nelas. O que os patrões dizem sobre os agitadores é totalmente verdadeiro. Os agitadores são um bando de pessoais intrometidas que se infiltram num determinado segmento da comunidade totalmente satisfeito com a situação em que vive e semeiam o descontentamento nele. É por isso que os agitadores são necessários. Sem eles, em nosso estado imperfeito, a civilização não avançaria. A abolição da escravatura nos EUA não foi uma conseqüência da ação direta dos escravos nem uma expressão do seu desejo de liberdade. A escravidão foi abolida graças à conduta totalmente ilegal de certos agitadores vindos de Boston e de outros lugares, que não eram escravos, não tinham escravos nem qualquer relação direta com o problema. Foram eles, sem dúvida que começaram tudo. É curioso observar que dos próprios escravos eles só receberam pouquíssima ajuda material e quase nenhuma solidariedade. E quando a guerra terminou e os escravos descobriram que estavam livres tão livres que podiam até morrer de fome livremente, muitos lamentaram amargamente a nova situação. Para o pensador, o fato mais trágico na Revolução Francesa não foi que Maria Antonieta tenha sido morta por ser rainha, mas que os camponeses famintos da Vendée tivessem concordado em morrer defendendo a causa do feudalismo.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Vida Profissional

clique na imagem para ampliar



Um pouco mais de calma, um pouco mais de alma


O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Poesia: Trecho de Paciência de Lenine
Foto: H.C.Bresson

Lua abstrata


Do teto caem os sinos de lycra
Iluminando tuas pernas lisas
Minha visão dissolvesse em lux
Moldando a imaginação em teu corpo

Enquanto fotografo você entre taças de vinho
Os esmaltes dançam em um balé sincronizado
Na regência da acetona
A caixa torna-se palco improvisado

E na sacada em meio às folhas verdes da cerejeira
Estamos como em um único ser andrógino
Vendo a lua abstrata
Nos rastros dos barcos da lagoa (...)

Para xanda
Poema e foto: Rodrigo V. Souza
Set/2010

POA

Sim!
Ontem andei em ti,
Nas tuas ruas úmidas, Adicionar imagem
Na tua pálida arquitetura antiga e fria.

Ontem em um sonho andei em ti,
Sentido em minha face o Minuano que encana na tua geometria rígida.
Oh! E quantos pedaços de mim eu deixei em tuas noites,
Na parte baixa, perdido em pó subindo teus morros para encontrar nossa assimetria.

Ontem andei em ti em um sonho,
Senti saudade da tua cor amarela ao entardecer, do pôr, do lago que é rio, do fantasma Quintana na praça.
Ontem andei em ti e senti saudade dos sebos, teatros e vinhos do bar do André.
Saudade do cais,
Refugio solitário no verão,
Da redenção aonde foi lagarto no inverno e bixo vegetariano.

Ontem sonhei contigo,
Com a cachaça de pimenta do Puing.
Andei em tuas ruas povoadas de anarquistas,
Povoadas de mim e meus amigos, colando cartazes na farrapos...
Sim!
Tenho saudade de ti prostituta!
Que se vende, mas não por tua culpa.

Ontem andei em ti,
Girei nas tuas musicas, historias e poesia,
Sonhei com tuas esquinas povoadas com os meus amigos,

Sim!
Ontem andei em ti em um sonho,
Senti saudade...

Imagem: Porto Alegre/2010 - Rodrigo Vargas Souza
Poema: Rodrigo V. Souza
Set/2010