terça-feira, 27 de dezembro de 2011

PAISAGEM DA JANELA


A energia que mobiliza os indivíduos a lançarem-se a percorrer tantos caminhos quanto lhes seja possível, inexplicavelmente renova-se a cada amanhecer, impulsionam o peregrino mais e mais, claro está que como todos os fatos da vida apresentam prós e contras, sempre renunciamos algum aspecto da existência e somos brindados com uma nova experiência, a gene humana é marcada por estes antagonismos permanentes, avanços e retrocessos, o importante é que não abandonamos nossa origem primitiva de nômades coletores, sempre adequados as circunstancias da época, então andamos.
Muitas são as paisagens, a longa distancia as pessoas, culturas, comportamentos sociais, com que nos deparamos, fenômeno que só se pode constatar em um transitar constante, daí a reflexão se faz necessária, neste exato momento encontro-me em meio à jornada, já com milhares de milhas percorridas permaneço como no princípio, estupefato pela pluralidade humana que se manifesta a cada instante.
Podemos aportar em uma velha civilização, forjada na intempérie e encontrar a escadaria onde Bonaparte caminhou triunfante e vitorioso rumo ao castelo real, ou na a periferia da cidade antiga com sua feira dominical revelando-nos a anciã sentada inquieta e esperançosa de vender sua relíquia em gesso, tão frágil quanto sua constituição física, dez “zlot’s” lhe vão bem, para nós basta a “piwo” escura e forte, gelada como no Brasil distante, percorremos Pub´s lotados por jovens revelando sua ansiedade latente, protagonistas globalizados que carregam o peso da memória toda esburacada por balaços de soldados alemães ou russos, ou da resistência sindicalista local que lutou até o último homem por manter a terra livre, o gueto sangrento que marcou a história, os neonazistas contemporâneos que insistem em manifestar sua intolerância truculenta, o avanço sistemático do estado no controle sobre as moradias da população pobre, o bêbado indignado discursando na madrugada fria, mesmo assim a cidade insiste e mostra sua face bela, seus monumentais e organizados parques, seus habitantes, calados e lépidos nas manhãs geladas, a pouco estive ali...
De passagem cruzo a cidade luz um pouco ofuscada pelo ranço de seus servidores mal servidos e me dirijo à costa catalã marcada por seu orgulho local e por seu passado intenso, antes, porém percorro a paisagem lunar pontiaguda, pronta a nos acolher com sua rochosa figura. Enfim chego e megalópole.
A cidade pulsa no dia das bruxas, seres fantasiados convivem com a multidão de estrangeiros passeando pela “Rambla” numa multiplicidade de línguas e semblantes, tanta diversidade, encontramos o paquistanês que contribuí com seu “kebab” suculento, alimentando os passantes, pernil de porcos expostos em vitrines das lojas, como troféus, o “bocadillo” tradicional servido com alegria e azeitona, mergulhamos nas lembranças, retomamos a subida a Montserrat e seus quatro mil metros de altitude caminho percorrido no passado pelos libertários perseguidos e acossados por um regime fascista e extremamente violento, lugar tão belo e silencioso que encerra em sues profundos abismos histórias da dor, da coragem da capacidade fabulosa em recriar e reconstruir mesmo que inexoravelmente feridos por aqueles que motivados por sua usura arrivista, por seu nacionalismo incompreensível e doentio deixaram suas marcas viscosas na rocha secular.
Retornamos ao país continente que se agiganta em sua maior cidade marcada pela turbulência, pelo partido dominador, hegemônico nas comunidades periféricas ditando a ordem regrando a vida, ali “desfrutamos” socos, empurrões e pontapés no trem lotado do fim de semana, quando a urbanidade explode e confunde o viajante ainda saudoso do leste gelado, a realidade é brutal, fortalece a dúvida, quantos “brasis” cabem neste Brasil devastado por forças incompatíveis, mesmo neste cenário caótico felizmente encontramos a solidariedade e confraternizamos com outros peregrinos, lembram? Nômades coletores que milhões de anos depois, não perderam seus traços familiares, exausto depois de enfrentar uma longa e cansativa jornada o viajante retorna a origem, mas não por muito tempo...
A estrada novamente se apresenta como a via imprescindível e literalmente subimos ao cerrado que sem cerimônia expõem suas entranhas repletas de tesouros e desventuras, heroísmos, traições resistência, enfim história viva, seus fantasmas reivindicam lembrar os diamantes o ouro o nióbio as selvas cafeeiras, o quilombo sem nunca esquecer a cachaça suave e poderosa, “trem bão sô”.
Continuando, dos céus visualizamos as manchas da civilização e forçosamente acabamos por optar nos deixar conduzir pelas forças místicas da ilha encantada exuberante, mágica e ao mesmo tempo natural.
Aqui encontro meus iguais e entre tantas confluências, com eles projeto os dias que virão traço a nova rota a percorrer, Jack solidário se aproxima em meu socorro e arremete aos ares; ”on the road”...

Texto: André Soares

Imagem: Rodrigo e André

O Uivo - Allen Ginsberg

“Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca uma dose violenta de qualquer coisa “hipsters” com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite, que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos”...

Manifestação pró Parque da Lagoa no Vassourão


Manifestação pró Parque da Lagoa no Vassourão – sábado dia 26 de novembro às 14 horas
"O Parque da Lagoa, bem como o Parque Cultural do Campeche e o Parque Cultural das 3 Pontas são foco de grande debate na cidade. As comunidades se organizando e se apoiando mutuamente, podem sim conquistar os espaços livres e públicos que precisam para recuperar nossa qualidade de vida que está se perdendo às custas da especulação imobiliária, em prol de uma urbanização que não leva em conta a história, a cultura, o ambiente e sequer a vida das pessoas que aqui vivem ou virão viver…" (http://www.salveoparquedalagoa.org/)



Mesmo depois dos protestos dos moradores e de milhares de assinaturas arrecadadas, as obras continuam, mais um espaço roubado da população, os politicos corruptos e os empresários ganânciosos acumulam mais um crime contra o meio ambiente e a população de Floripa.



Proteste!


organiza-te e lute


Ação Direta e Apoio Mutuo

Proteste! - Salve o Parque da Lagoa

domingo, 11 de dezembro de 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Como a mídia brasileira sufoca a liberdade de expressão

http://www.youtube.com/watch?v=q6rYOTeptPs&feature=share

SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO

Não ao vaticano!

Luiz Carlos Prestes recebeu dinheiro das multinacionais

Por Práxis 10/01/2010 às 12:05

Para desespero da "esquerda" tradicional e pelega, foi o próprio Prestes que admitiu isso em seu livro de memórias ditado aos jornalistas Dênis de Moraes e Francisco Viana, intitulado "Prestes: lutas e autocríticas" (Editora Mauad). O livro é de 1982 e surpreende que esse trecho não seja divulgado e discutido.

Lá pelas páginas 58, 59 e 60 do livro (edição de 1997), Prestes revela que, durante seu "exílio" na Argentina, em 1928-1930, trabalhou como diretor numa multinacional do ramo da construção que atuava na Argentina, no Uruguai e no Brasil. Ele não identifica a empresa, apenas diz que era uma firma inglesa com participação de capitais argentinos (típico empreendimento que junta um truste internacional a sócios da burguesia nativa submissa).

O trecho mais curioso sobre a experiência de Prestes como marionete do imperialismo é esse, em que ele revela como arrancava o sangue dos operários para agradar à matriz. Leia-se abaixo:


"Eu logo descobri nos primeiros dias que era um bom explorador da força de trabalho do operariado. Organizei o trabalho e fiz o pessoal render o dobro. O que fiz? Inverti o horário: ao invés de começar às 8 horas, o expediente passou a se iniciar às 4 horas da madrugada, sob frio intenso e com a estrada iluminada por holofotes, e terminava ao meio-dia. Os operários tinham apenas um intervalo de 15 minutos para o café. No início, os donos da empresa reagiram, mas voltaram atrás quando viram que, com o novo ritmo, os operários estavam rendendo mais. Foi inclusive nessa época que eu mais tive tempo livre para ler Marx. Chegava em casa, tomava um banho, almoçava, descansava e ia ler".


Diante de passagens como essa, fica difícil para a esquerda reformista e pseudo-revolucionária defender seu maior ícone, assecla confesso do grande capital apátrida e espoliador que fingem combater. Se houve alguém que ajudou a barrar a revolução no Brasil, não foram as ditaduras de Vargas e dos militares, foi a direção pelega, reacionária e entreguista do PCB e outras agremiações assemelhadas. Não preciso nem lembrar que foi Prestes, em 1962, que se manifestou CONTRA a iniciativa das Ligas Camponesas de treinar e organizar guerrilhas no Nordeste, durante o governo pseudo-reformista de João Goulart.

PCB recebia mesada das multinacionais nos anos 40 e 50
Por Práxis 11/01/2010 às 17:53

Dou seqüência ao debate que iniciei em outro post, quando trouxe à tona a colaboração confessa de Luiz Carlos Prestes com o truste britânico que atuava nos países do Cone Sul no ramo da construção de obras (deceerto superfaturadas). Como todos lembram, usei uma passagem pouco conhecida do próprio livro de memórias de Prestes.

Alguns representantes da "esquerda" tradicional e pelega me contestaram, como se vê nas mensagens postadas em:

http://brasil.indymedia.org/pt/green/2010/01/462503.shtml

Em vão tentam acobertar o óbvio: o caráter reacionário, colaboracionista e entreguista do PCB e outras organizações similares. Agora, tiro de minha biblioteca mais uma prova de que toda a direção do PCB era vendida, não apenas Prestes.

Trata-se do livro de memórias do jornalista Samuel Wayner, figura conhecida que colaborou primeiro com o então clandestino PCB, durante os anos 40, e depois passou a apoiar o peleguismo varguista, quando ganhou de presente o jornal Última Hora, com acesso aos cofres do Banco do Brasil, já nos anos 50.

O livro, intitulado "Minha razão de viver" (Editora Record, 1987) traz algumas revelações interessantes, algumas convenientemente esquecidas pela "esquerda" tradicional, lá nas páginas 100 a 115. Nos anos 40, Wayner trabalhou na redação dos jornais "Diretrizes" e "A Manhã", ambos do PCB. Supresa! Ambos os veículos eram subvencionados pela Light, multinacional canadense do setor elétrico que só veio a ser nacionalizada em 1979. Um dos trechos vai aí embaixo:

"Kenneth McCrimmon era o diretor da Light, que distribuía propinas a todos os jornais da época. Mesmo os jornais do PCB, a Manhã e Diretrizes, recebiam uma verba da Light. Nossos editorialistas mais influentes recebiam diretamente da empresa pagamentos destinados a torná-los dóceis diante das imoralidades que a beneficiavam. As exceções eram raríssimas".


O que a "esquerda" tradicional, pelega, entreguista vai dizer agora? Que o PCB não era lacaio do imperialismo? Sempre haverá aqueles que se apressarão em alegar que foi "um erro" do Partido. Não se trata de "erro", mas de crime consciente. Colaboracionismo descarado.



NEM PARTIDO -NEM PATRÃO

Sindicalismo Revolucionário

FOSC-COB-ACAT-AIT

SABOTE ZARA !

A subsidiária da Zara no Brasil está sendo acusada de envolvimento em trabalho escravo. a empresa fornecedora AHA, detinha várias fábricas ilegais na região de São Paulo, onde trabalhavam imigrantes bolivianos e peruanos submetidos a condições semelhantes à escravatura.
Em Maio, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego libertou 52 pessoas, quase todas originárias da Bolívia, que exerciam trabalho escravo em fábricas clandestinas na cidade de Americana, no interior do estado de São Paulo.
O recrutamento dos 'quase escravos' seguia o padrão habitual: os trabalhadores foram aliciados em zonas muito pobres da Bolívia e do Peru, com promessas de melhores condições de vida no Brasil, mas, mal chegaram a São Paulo, foram obrigados a trabalhar 16 horas por dia, por um salário inferior ao vencimento mínimo legal, que são 340 dólares por mês. E desse salário miserável os empregadores ainda descontaram o custo da viagem para o Brasil, a comida e outros custos, o que, para o MTE, constitui crime de escravatura por dívida.


DIVUGUEM E SABOTEM A ZARA MODAS!

CONTRA O TRABALHO ESCRAVO!

INTERNACIONALISMO LIBERTÁRIO

FOSC - COB -ACAT-AIT

A Agropecuária Manom - Crime contra os Animais!

A Agropecuária Manom, localizada na Avenida Cavalhada em Porto Alegre abandona na rua os animais que recebe para doação.



PROTESTO - Araxá 14/DEZEMBRO/2011

RELATO EM 7/12/2011


A SITUAÇÃO DO CONFLITO,


“Estamos mobilizados, com os novos trabalhadores demitidos (40), para entrar com uma massa de ações trabalhistas”, uma vez que a empresa agora “ameça com fechar suas portas”.
Precisamos entrar o mais rápido possível com essas ações antes que a empresa mude o seu registro civil (a razão social da empresa) e (e do capital social) sobreviva apenas nossos processos, sem a possibilidade de buscar as melhorias efetivas que desejamos a todos
Estamos passando por problemas, mas sem duvida serão superados por nossa vontade de vencer a luta social.
Iremos repassar ao advogado que esta no caso o nome e, a sugestão do advogado gaúcho Dr. Nereu Lima, para procurarmos também a Ordem dos Advogados do Brasil.
Quem quiser pode vir ao protesto em Araxá está garantido “o abrigo e a comida”.
Estamos ainda tentando ajuntar parte do dinheiro para pagarmos o advogado já que são dois processos, um da Finta e outro da FF Mercantil.
Manteremos essa luta até as ultimas conseqüências pelo bem de nossa gente e do anarcosindicalismo, sua ferramenta de luta .



BOICOTE A FF MERCANTIL, A LOTTO E A FINTA!
PELA READMISSÃO IMEDIATA DE ÍCARO E OS TRABALHADORES!
CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DA LUTA DOS TRABALHADORES:
LUTAR POR MELHORES CONDIÇÕES NO EMPREGO
NÃO É UM CRIME DE INJURIA É DIREITO DOS TRABALHADORES!

ESSAS EMPRESAS NÃO CUMPREM OS DIREITOS SOCIAIS!

PROTESTO NO FORUM SOCIAL TEMÁTICO FSM, em PORTO ALEGRE, JANEIRO/2012
PROTESTO, na "RIO + 20", no RIO DE JANEIRO, EM JUNHO/2012!

ORGANIZA-TE E LUTA (COB/AIT)
SOLIDARIEDADE UMA ARMA
QUENTE!


“Basta a toda essa merda podre...”
“O Sindicato dos trabalhadores em Artes e Ofícios Vários de Araxá agradece “toda solidariedade demonstrada neste conflito que capitalistas utilizam de todos os meios para nos calar”, porem a verdade está em nossa realidade e não em suas leis ou perseguições.”
Filie-se à FOM, forme uma comissão sindical em seu local de trabalho, tome decisões em assembléias gerais, autogestão, lute por uma sociedade justa. Lute por sua liberdade! Solidarize-se com o companheiro do Sindivários de Araxá!


INTERNACIONAL É A PRECARIZAÇÃO
INTERNACIONAL É A NOSSA LUTA!

PELOS DIREITOS DOS TRABALHADORES
CONTRA O TRABALHO PRECARIZADO!
CONFEDERAÇÃO OPERARIA BRASILEIRA COB
ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES

Sindicato dos Trabalhadores em Artes e Ofícios Vários Araxá - Minas Gerais

Pedimos qualquer ajuda para pagarmos o advogado,uma vez que não recebemos subsídios estatais para sobreviver e lutar a partir de nossas próprias crenças e possibilidades geradas pelo nosso trabalho em fábricas e outros locais de trabalho.
Esta luta se abre para expor a farsa dos Sindicatos “oficiais” resultados históricos da legislação brasileira na história de dominação fascista neste país.


Qualquer dinheiro é bem-vindo para manter esta causa judicial e sindical.

... "...Bem juntos façamos nesta luta final
uma terra sem amos,

a Internacional! ".

Saúde e Anarkia

aderente a
F.O.M./C.O.B.- A.C.A.T. / A.I.T.

Fanzine - Resistência Antifashion


www.resistenciaantifashion.com

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Uivo - desde de 2001

Imagem: Edvard Munch. O Grito, 1895. Gravura. Munch Museum, Oslo, Noruega.

AQUARELA


Mulheres sólidas passeiam no jardim molhado de chuva,

o mundo parece que nasceu agora,

mulheres grandes, de coxas largas, de ancas largas,

talhadas para se unirem a homens fortes.

A montanha lavada inaugura toaletes novas

pra namorar o sol, garotos jogam bola.

A baía arfa, esperando repórteres...

Homens distraídos atropelam automóveis,

acácias enfiam chalés pensativos pra dentro das ruas,

meninas de seios estourando esperam o namorado na janela,

estão vestidas só com um blusa, cabelos lustrosos

saídos do banho e pensam longamente na forma

do vestido de noiva: que pena não ter decote!

Arrastarão solenemente a cauda do vestido

até a alcova toda azul, que finura!

A noite grande encherá o espaço

e os corpos decotados se multiplicarão em outros.

Poesia: Murilo Mendes
Imagem: Antonio Pareiras

O acendedor de lampiões



Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita: -
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua!

Poema: Jorge de Lima
Imagem: Oswaldo Goeldi

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ainda serão culpados os pobres


Bebo um copo de água
"Límpida"
"Pura"
Diferente do que jorra do cano branco de PVC
Que cospe merda,
Óleo de cozinha
Cabelo e xampu
Detergente
Feto de aborto

A água da lagoa é suja
E não foi os pobres quem a sujou
Foi à burguesia
De idéias podres
No circulo da tarrafa do seu zininho
Apaga-se a beleza que um dia cantou o poeta
Agora vem pouco siri
A lua reflete opaca no óleo das lanchas de cor também branca
Falta peixe no rancho
Diz o pescador
Foram roubados nos barcos lá de fora
Os donos dos barcos e da sujeira
Sujeira que vem junto na tarrafa do seu zeninho
Junto com um pouco de camarão

Poesia: Rodrigo Vargas Souza / Imagem: Franklin Cascaes

Gripe Primaveril

Sim!
Prefiro beber a ler
Os livros da estante estão mudos
Corroídos de traça
As folhas coladas
Manchadas de palavras dissolvidas
Os livros da estante em minha casa
Servem para esconder o mofo da parede
Mofo
Da mesma umidade que me trouxe a gripe
Fazendo-me fechar a janela
Esconder-me do vento
Não ver o verde sensual da lagoa
Resistir à dureza do concreto

Sim!
Os livros das estantes estão retos
Como a geometria cega da especulação imobiliária
Eu em uma tarde primaveril embebedado de gripe
Preso vendo os cantos dos pássaros livres
Observo
O vapor do chá de limão e gengibre
Saindo de uma xícara quieta
Dançando com vento que escorre pela fresta da janela
Eu trago o ruído ao silencio da tarde febril
Tusso, pigarreando o telhado
Catarro misturando-se ao musgo seco
O sol lá de fora é claro
Faz de minha alma translúcida
Vidro
De onda invisível que passa por tudo
Revelasse em luz e sombra na superfície enrijecida do Papel
Os livros da estante hoje não estão sós
Hoje
Leio poesia



Poesia: Rodrigo Vargas Souza/Imagem: Franklin Cascaes

domingo, 16 de outubro de 2011

O segredo do revisor



Os homens erram muito.
E ele corrige, meio louco, feito Aguirre,
tirando chapéu de cabeça
ou pondo-o, conforme o caso.
Viu que Camões é quase nórdico de frio
em sua epopéia e que a saudade é doença latina
a latejar no canto escuro cordial.
Pensa em Pierre Larousse que amava os
revisores,
em Erasmo de Rotterdam, Servet, Machado de Assis.
Viu que os livros têm defeito:
todos dizem a mesma coisa:
enquanto um entra pelo ânus do mundo,
outro sai pela boca, outro enxerga com o dedo,
ao passo que outro escapa pelo nariz.
O revisor revisou o mundo e viu: Deus
no malogro, em lodo, num lago de logos,
escondido e disfarçado nas mil faces da matéria
e do informe, do indizível. Face invisa.
E reconheceu, conforme, que só assim
Deus lograria a Si salvar
escapando ao pente fino das razões,
à cética revisão dos homens.
E o revisor guardou, pra si, esse segredo.
Baixou então o dê de Deus, conivente:
a protegê-Lo, para proteger a si.
Por fim, pensou: “Os homens erram muito mesmo:
são pedantes, distraídos e vulgares”.

Poema:Vicente Cechelero
Para Aurélio Buarque de Holanda,
que foi também revisor (em memória)

sábado, 1 de outubro de 2011

Como era lá pra fora


Como segurando o crepúsculo
O fogo de chão
Esquenta a chaleira negra
E o amargo do chimarrão reveza a goela com a cachaça
Pelego de ovelha sobre a tábua de araucária polida
A porteira aberta
O carroção e a junta de boi
Andando lentamente
Como se retrocedesse o tempo
Passado e presente misturado
Cavalgando os buracos circulares com cacos de cerâmica
Que hoje abrigam as taperas e a alma de Teiniaguá
O carro avançando o tempo para o futuro
A mesma poeira
A estrada de chão
O açude
O campo pampiano
Os lambaris em pulos
Manchando a paisagem de cor prata
A goleira de pau roliço e a trepadeira magenta
Enquadrando o horizonte que lanha
O verde do azul
As caturritas rompendo o silêncio
As margens do arroio ribeiro
Os butiazeiros carregados de frutos
Coquinhos no chão
Corroídos pelas formigas cortadeiras
Nos capões,
Nos entreveros dos maricás
O eco do pajador
No banhado o esteio com água pela cintura
Abriga os pés da coruja baguala
Como sangue de mesma geometria
A arquitetura do João barreiro
Sobre os postes de energia latente
Cachopa de marimbondo
Mel de abelha
Eucalipto
Tudo é ocupado por bicho guasca
O sol queimando o torrão
O chão do graxaim
Revirado pelo arado
Sanga vertendo
Sanguessuga
Monocultura
Aeromotores e veneno
Riscam a beleza miúda
Da terra do índio minuano

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Desenho: Glauco Rodrigues

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Yo apoyo la huelga de profes

Anarco Sindicalismo - A tua maior defesa



Poema sem palavra

Poema de desmontar


A
Palavra
Sai quando quer
O ar
Respiramos sem parar
Parar
Ar
Respiramos
Quando quer
Sai
A
Palavra

Desmonte e monte o ar e a palavra

Poema: De quem desmontar e montar
Imagem: Achei na internet

Kepler 16-B a história traída e a tradição


Espaço a fronteira final, assim começava sempre o episódio de “Jornada nas Estrelas”, hoje o que no passado era ficção torna-se realidade afirmam os cientistas da NASA, na quinta feira da semana passada foi anunciada a descoberta de um planeta que orbita ao redor de duas estrelas, algo anteriormente só concebido na ficção científica e no cinema.
A existência dos chamados planetas circumbinários (que orbita duas estrelas), já era conhecida, mas esta é a primeira vez que conseguiram captar o movimento de um planeta ao redor de seus dois sóis, que se chamará Kepler 16-B. A descoberta foi alcançada através de imagens captadas do observatório espacial Kepler capaz de encontrar planetas do tamanho da Terra na chamada "zona habitável", região em um sistema planetário onde pode existir água em estado líquido na superfície do planeta em órbita.
Mas alguém deve estar se perguntando: este cara pirou de vez? esta com febre alta? novamente me lanço em mais uma jornada sem destino, na tentativa de estabelecer relação entre imponderabilidades possíveis e a brutal realidade contemporânea, se ainda é possível relacionar os fatos que se sucedem descontroladamente, mas aqui neste limitado espaço de uma página afirmo categoricamente que é.
Se aceitarmos que toda informação que nos chega sempre é a versão de um acontecimento e mesmo que nos atinja em tempo real nos alcança sempre através dos filtros da imagem ou do som e do limite da nossa própria capacidade de interpretar os fatos que nos bombardeiam a todo instante, hoje somos os catalisadores de toda esta complexidade, ao investigar a história aqui do sul, vamos nos deparar com uma intencional manipulação da versão oficial, guardadas as diferenças técnicas e tecnológicas, os atores da história no passado se caracterizam pela verossimilhança com os de hoje, exploração, traições, disputas de poder, escravos e opressores e seus relatos.
A chamada Revolução Farroupilha alimenta esta reflexão, numa análise mais detalhada vemos seus atores protagonizarem todas as facetas da dramaturgia social, e no final reconhecemos os perdedores de sempre, saem derrotados os vassalos das oligarquias da época, para sempre condenados ao obscurantismo e servidão, na atualidade encontramos uma multidão cegamente apaixonada e apegada aos seus mitos e tradições, mas em contrapartida, engrossa o grupo cada vez mais expressivo e audaz dos que não poupam esforços na tentativa de desmascarar o que na sua visão trata-se de uma fraude histórica, um embuste que omite a realidade dos fatos, paro e observo imensas lacunas na versão oficial, sempre tendência deste ou daquele, me valho da Sociologia Ambiental e me vejo parafraseando Anthony Giddens: “a tradição defendida de forma tradicional”, constituí uma ameaça ao dialogo e beirando a um potencial de violência, ressalva ainda que “o neoliberalismo se mostra contraditório, no sentido de que, por um lado, é hostil à tradição, no seu afã de conquistar novos espaços para o mercado; por outro, depende da manutenção da tradição, pela legitimidade que ela tem e por sua ligação ao conservadorismo naquilo que diz respeito à nação, religião, gênero e família”.
Contradição é um dos adjetivos da modernidade, então, questionar a relação de um novo planeta e seus dois sóis, com a tradição e os fatos mal resolvidos na história, perambulando entre realismo fantástico, cyber espaço, campo unificado, neutrinos, conceitos sociológicos, dogmas e realidades, formando um mosaico de complexidades, que alimenta o espírito inquieto neste contexto repleto de possibilidades rumo ao universo da imaginação...

Texto: André Soares
Fotografia: Walker Evans

Ciclo humano


Neutrinos,
Buracos negros,
Minha solidão.
Anarco-punks,
Conhaque de gengibre,
Todos pelo chão.
Não falarei,
Ninguém vai entender,
Entre o concreto e o abstrato,
O objeto,
O fracasso,
A vertente do irreal,
Subconsciente,
Subdesenvolvido,
A verdade inexistente,
Universo paralelo,
Tudo está em mim,
Tudo está em você,
Cegueira infinita,
Prisão do ciclo humano.

Poesia: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Evgen Bavcar

E la nave va...



São tantos os labirintos em que nos perdemos no transcorrer de um único dia, episódios que no desenrolar das horas tornam o exercício da vida um movimento sucessivo de avanços e retrocessos, de perdas irreparáveis, reencontros e descobertas, percorrendo caminhos pavimentados pela fantasia, pela ilusão, pela realidade, e tudo isso num recorte de 24 horas, como se estivéssemos diante de uma grande tela assistindo o enorme transatlântico percorrendo oceano, o rinoceronte a deriva, a dança oscilante das ondas, e toda a carga de informação com que somos alvejados a cada instante, ansiamos por encontrar refúgio e proteção, que na maioria das vezes não passa de uma frágil película revestindo nossas emoções.
Lançando um olhar irônico sobre o cotidiano, explorando suas dicotomias teremos um mosaico de contradições tão requintado que a confusão que resulta serve de estímulo a reflexão e quem sabe favoreça alguma ação. Mergulho nas minhas próprias perspectivas e seus micro mundos tão conectados quanto distantes da complexidade contemporânea, enxergo as múltiplas possibilidades, as deformidades contidas no ambiente, a sociedade afogada na intolerância que matou o punk no fim de semana da grande metrópole, em Kadafi vociferando de seu esconderijo, ou nos estudantes chilenos em batalhas urbanas, na guerrilha do complexo do Alemão, no 11 de Setembro dez anos depois, em Sócrates com cirrose, até no Etna entrando em erupção causando pânico local e curiosidade na mídia, enfim, sufocados neste que é o nosso tempo, nossa prisão tecnicista, já sentiram o vazio das horas quando falta energia elétrica?
Pulsam provedores, sites, facebook, twitter, smartphone, chegamos à era petabyte, uma unidade de medida de informação que equivale à 1.000.000.000.000.000 de bytes e que proporciona a inteligência americana poder armazenar todo o fluxo de informações do planeta num sistema complexo e sofisticado, minha mente voa longe, retorno ao passado e me debruço sobre a Missão Obscura da NASA, que nos primórdios da corrida espacial foi formada pela estranha composição entre três sociedades nem tão secretas, os Nazistas, a Maçonaria e uma terceira chamada Estrela de Prata, compondo um mundo repleto de simbolismos, poder e mistérios, descobri este assunto casualmente após conversar com um amigo que citou Tum livro sobre a expedição nazista ao planeta Marte e de imediato me joguei nesta jornada investigativa.
Nasceu uma convicção, a despeito de tão fabulosa tecnologia, com avanços em todas as áreas do conhecimento o espírito humano permanece indomável e imprevisível, me fascinam estas alternativas da história, tão possíveis quanto improváveis, mas presentes, aceitas e abominadas, pagãs, sagradas ou científicas, fazendo lembrar Huxley profetizando: “oh admirável mundo novo que criaturas fantásticas você criou”, mundo formidável para alguns desconhecido para outros, para milhares sem sentido sem explicação, e para os “felizes” sem a menor necessidade de explicá-lo.
A literatura me socorre, mas logo ali na rua, agora neste instante, algo acontece, o cenário se altera rapidamente e os protagonistas se alternam em cena, o tempo não para, temos a ousadia de tentar congelar de possuí-lo, mas nos prostramos vencidos, seguirá soberano e inexorável sobre o destino da humanidade, recentemente noticiou-se estender a longevidade para 150 anos, bela tentativa de prolongar a existência, mas e as conseqüências deste fato? se pensarmos um pouco, com tamanha distorção em que vivemos só alguns poucos eleitos se beneficiarão da conquista, muitos nunca chegarão a idade madura, tantos fatores contribuem para isto, tão abismal a distancia que separa os seres, tão absurda esta sanha arrivista de poucos, pode parecer que estas projeções não passem de ato isolado e desesperado de um naufrago sideral, perdido em meio a este macro cosmos das idéias, sonhos, projeções, convicções e pouquíssimas ações em defesa do essencial, em prol da vida, do humano, confesso minha impotência, só me sinto livre aqui, e mesmo assim estou limitado pela página, pela fonte e por minha duvidosa consciência, não quero perturbar as pessoas mas é incontestável que devemos tomar uma atitude urgente em relação ao processo da história em que estamos entalados, a mim a natureza ofertou esta capacidade camaleônica de estar aqui, ali, acolá e conviver com a diversidade das comunidades e dos grupos sociais, em tudo há esperança, em todos existe a capacidade de transformar, escutem, ouviram? vem até mim o eco mutante: os ventos do sul já vão chegar...

Texto: André Soares

Imagem: Walker Evans - 1930

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Colchão de liquidez, semiótica, a agonia e o êxtase


Assistia a pouco ao monumental filme “Agonia e Êxtase” de 1965, narrativa magistral da relação conturbada entre Michelangelo e o Papa Júlio II deflagrada durante a pintura da Capela Sistina, o artista que a princípio recusa a missão se entrega com vigor até o esgotamento físico e emocional na execução daquela que é uma das maiores obras primas do mundo, ato de amor a arte e devoção ao espírito livre que não se rende ao poder imposto a força, travando uma batalha entre temperamento e liberdade artística. Charlton Heston e Rex Harrison nos brindam com interpretações marcantes, mas na verdade ancoro meu pensamento no cinema me valendo de sua inspiração e passo a percorrer os labirintos em que a mente vaga em meio a tantos assuntos palpitantes, nova crise econômica global provoca previsões alarmistas de norte a sul, focos de insurreição por todo o lado, bombardeios na Faixa de Gaza, morte, respira-se a futura Copa do Mundo no Brasil onde o Governo Dilma cambaleia diante de escândalos que estão se transformando em epidemia, quando corrupção, tráfico de influencia e enriquecimento ilícito são os adjetivos do poder.
Também aprendi recentemente que possuímos um colchão de liquidez que até então nem sabia de sua existência e utilidade, parei e fui ver do que se tratava, pois então descobri que nossa pujante economia aconchega-se numa confortável reserva cambial a fim de garantir tranquilidade nos dias bicudos de intempéries promovidos pelo ataque do capital especulativo que age voraz sobre os sistemas financeiros mundo a fora. Nossa gorda reserva de pelo menos 1 trilhão de Reais funciona como um cordão de isolamento aos efeitos de um agravamento maior da crise internacional, garantir as exportações a abalança comercial interna estável em meio ao consumismo desenfreado é a missão de nossos técnicos e políticos na área econômica, cuidando para não cair no “empoçamento de liquidez” (situação em que o dinheiro fica parado nos bancos, sem circular na economia).
Não pensem que “pirei” tentando entender a mecânica do mercado internacional, afirmo que “ainda” não, minha tentativa é a de demonstrar que na realidade todos nós sustentamos esta ficção de títulos do tesouro, dinheiro compulsório ou dólares de reserva que apesar das cifras astronômicas são cobertor bem curto ao trabalhador que levanta na madrugada, vai e volta enlatado ao seu emprego, quando o tem, para garantir o “sal árido”, que não lhe permite mais do que simplesmente continuar respirando,
Por fim me dirijo à Semiótica (do grego semeiotiké ou "a arte dos sinais"), que se detém ao estudo do significado ou representação de determinadas manifestações, na natureza, na cultura, conceito ou idéia, deleita-se em todo o processo humano cientificamente, servindo aos eleitos do alto da sapiência acadêmica, sinceramente não quero passar a idéia de um sujeito rancoroso, mas, por favor, prestem atenção aos sinais, me sinto agredido com todo este formulismo, são tantas óticas, tantas elaborações e seus maniqueísmos, daí relacionar colchão de liquidez com a Semiótica minha agonia e o êxtase extraído da arte onde os sonhos não envelhecem, onde de tudo se faz canção até repousamos o coração na curva de um rio, quando não há nada que se possa fazer melhor que sonhar sabendo que o pior já passou e podemos de tudo querer, e sem dúvida lá viver é melhor...

Texto: André Soares
Imagem: Detalhe da mão de David de Michelangelo

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Caroço de abacate


Dia frio,

Café quente,

Meu coração por ti bate,

Como caroço de abacate.

Poema: Giovanni Nesi
Foto de Brigitte Bardot

O assassinato do guarda chuva




A chuva parou,
A sopa está fria,
A garrafa vazia,
A sombra da noite passada invade a sala,
Toda a cena tem um colorido,
Como um filme de Truffaut.
O dia violentou a noite,
E o vento assassinou o guarda chuva
Agora permanece torto,
Morto na porta da casa.
A água está fervendo,
Neste dia pálido,
O silêncio é borrado pelo canto do tucano,
Que precede o grito de espanto da chaleira,
E o vômito do bule,
Negro de café.

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem do Filme - Os Incompreedidos - François Truffaut

Lê-me


Eu queria um poema perfeito
com o teu nome,
o meu,
e a nossa miséria.

Poema: Annie (Botânica de Annie)
Blog:
http://tenuebolbo.blogspot.com/
Xilo: Oswaldo Goeldi

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Pajador libertário


Como pajador libertário
Escrevo sobre o meu cotidiano
Em prosa
Poesia de não ficção
Na contramão da historia
Saboto em versos a corrupção
Desnudo a miséria de uma nação

Caso o meu verso
Não cause o inverso da situação
Não me preocupo!
Pois os sonhos de liberdade
Brotam dos campos férteis da imaginação

Viva a revolução!

Para : Simões Lopes Neto, Caetano Braun, Noel Guarany
Poema: Rodrigo Vargas Souza

Imagem: Os mineiros de Butiá de Danúbio Gonçalves

A bolha, a intolerância e a queda de cabelo



Qual é relação inteligível entre a bolha econômica, a intolerância étnica com a queda de cabelo? Por mais absurdo que possa parecer a resposta é simples, a mais complexa e completa cumplicidade, senão vejamos, novamente aproxima-se nova crise na economia global, o limite da dívida pública americana é fator de enorme preocupação, e no Brasil que segundo técnicos do Financial Times apresenta um diagnóstico preocupante por apresentar uma economia inflada como uma bolha prestes a explodir, alto consumo interno ancorado em taxas de juros exorbitantes sofrendo ataque fulminante do capital especulativo produz um quadro de extrema insegurança, a despeito de nossos governantes aparentarem tranqüilidade.
O reflexo deste quadro alarmista é a explosão de focos violentos em todas as partes do planeta, Londres mal dorme já há três dias os bairros de imigrantes mergulharam na revolta, mas não fica restrito aos imigrantes, as distorções são mais profundas, no Brasil pré Copa/Olimpíada a situação não é diferente, ouvimos que aqui apesar da intolerância local, recebemos imigrantes oriundos da Ásia, África e América andina, que no Século XXI ainda encontramos os arautos da eugenia, muitos crimes são cometidos em nome da superioridade racial e da perspectiva de manipular toda a complexidade do gênero humano.
A queda de cabelo é a reação instantânea de quem se dá conta de toda esta contradição presente em nossa vida hoje, alguns são mais contundentes e chegam a arrancar o próprio cabelo, sim é agora, neste momento que os episódios ocorrem, no oriente, no norte, no ocidente, no sul, no extremo, no golfo, na península, no fundo do poço, a palavra da hora é “crise” e em conseqüência protestos globais.
Ah! Mas que sujeito rancoroso me transformei, não enxergo o belo, não consigo apenas seguir os rumos da maioria de nós que constituem o seu planejamento para a vida em “construir” um patrimônio, em vencer, em tornar-se independente, senhores e senhoras por mais ensandecido que meu pensamento possa lhes parecer, acredito que se agirmos na defesa da humanidade e entendermos que a responsabilidade também é nossa com o futuro só me resta murmurar é preciso acordar...

Texto: André Soares

Fotografia: Rodrigo Vargas Souza


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Tecnologia social - Acesse o link abaixo

http://pt.scribd.com/doc/59463752/Trabalho-de-Tecnologia-Social
UIVO ZINES - 10 ANOS


Não quero que ninguém
ignore meus gritos de dor, e
quero que eles sejam ouvidos


Texto e imagem: Antonin Artaud

POEMA de ANTONIN ARTAUD


“Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud
e basta que eu o diga
Como só eu o sei dizer
e imediatamente
hão de ver meu corpo
atual,
voar em pedaços
e se juntar
sob dez mil aspectos
diversos.
Um novo corpo
no qual nunca mais
poderão esquecer.Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,
meu pai,
minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!
Estou sempre
morto.Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto

Sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.
Eu represento totalmente a minha vida.

Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu
espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida.

Este Artaud, mas, por falta do que fazer…

Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria.

Imagem: Filme de Jean Rouch

terça-feira, 26 de julho de 2011

Não acabarei como um repolho


Que me perdoem os repolhos, mas nestes dias introspectivos do inverno gaúcho encontrei tempo e cheguei à convicção: “nem pensar em terminar a saga humana como um vegetal, cheio de camadas indefeso e pronto para virar alimento”, são tantas indiossicrasias que compõem a paisagem que ancoro sem escrúpulos no meu tema recorrente, o exercício da vida suas venturas e dissabores.
Tenho perdido horas de sono em meio a pensamentos desde o fabuloso milagre da vida planetária onde milhões de células disputam a hegemonia do corpo e do meio humano, sobre a natureza selvagem contida neste ser, de sua impressionante capacidade em recriar permanentemente a vida e de sua estúpida capacidade de destruí-la.
Mas voltando ao rei dos vegetais, o nosso repolho que nasce belo e verdejante broto e aos poucos vai sobrepondo suas folhas que o envolvem compondo camadas, como se a sequência da existência provocasse a necessidade de proteger mais e mais seu núcleo original, até quando já bem robusto é abatido, suas folhas mais velhas despedaçadas no caminho, e o seu interior picado e transformado ao mínimo em salada ou outra forma de alimento, sinceramente não gosto nem de me imaginar protagonizando esta cena no papel do repolho.
A trajetória humana é marcada pela diversidade, oscilamos entre extremos, do sonho das metáforas até a realidade fantástica, da extrema dor às explosões de alegria, utópicos ou piegas, desconfiados, extremados ou simplórios, o fundamental é não se perder nos labirintos da consciência perdida, sim, pouco a pouco a multiplicidade moderna acaba por nos sufocar, inibindo a reflexão honesta causando o embrutecimento até chegar à truculência.
Claro que esta visão também não é regra geral, existem variantes, mas o tecido social vem se deteriorando vertiginosamente, onde o abismo social amplia-se na medida em que se conquistam grandes avanços técnicos e tecnológicos, o quadro é pitoresco pois não evoluímos por inteiro, até parece o “duplipensar” do George Orwell onde desenvolvimento é retrocesso, sensibilidade é dor, consciência é solidão.
Se nos detivermos atentamente ao exemplo do repolho que mesmo ciente de seu destino inexorável mantém tenras suas folhas mais internas, que não se intimidando com as viscosidades do meio externo, mantendo sua integridade inatingível e só tornando-se vulnerável no momento que cumpre sua função de alimentar a manutenção da vida, convertendo-se em energia para aqueles que desprezarão parte do seu corpo, delegando ao lixo aquilo que foi considerado impróprio ou estragado segundo um critério duvidoso e parcial, o milagre da existência está presente em todos os ciclos planetários, vegetal ou não, olho pela janela, faz frio e ainda chove lá fora, com certeza mais uma noite de insônia...


Texto: André Soares

Imagem: René Magritte

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Quando você recusou-se a lutar


Enterre todos os seus segredos na minha pele
Desapareça com inocência, e deixe-me com meus pecados
O ar ao meu redor ainda parece uma gaiola
E amor é somente uma camuflagem para o que parece ser raiva novamente...
Então se você me ama, deixe-me ir
E fuja antes que eu saiba
Meu coração está sombrio demais para se importar
Eu não posso destruir o que não está lá
Me entregue ao meu Destino
Se estou sozinho, não tenho o que odiar
Eu não mereço ter você...
Meu sorriso foi tomado há muito tempo
Se eu posso mudar espero nunca saber
Eu ainda pressiono suas cartas junto aos meus lábios
E as guardo em partes de mim que saboreiam cada beijo
Eu não poderia encarar uma vida sem a sua luz
Mas tudo isso foi dilacerado... quando você recusou-se a lutar.

Poema: Gabriela Lima (http://gabilimavaladares.blogspot.com)
Imagem:James Natchwey

Cronograma de ações de inverno FORGS/COB-AIT



Excremento em papel

Sou um homem comum,
Primitivo,
Feito de palavras,
Contra os Yuppies,
Escrevendo em garranchos meus sentimentos.
Tenho desejo,
Carne,
Matéria.
Meu ateísmo é feio e sujo,
Não sou sexista,
Fascista,
Apenas me chame de pecador,
Ou como queira teu conformismo.
Não tenho muito a deixar
A não ser um pouco de mim
Em vaginas,
Em papel higiênico,
E Palavras dissolvidas no ar.
Sou feito de vida,
Vivida,
Bebida,
Música,
Alguns livros lidos sem vírgulas.
Sou um homem,
Sem métrica,
De matéria bruta que se apodrecerá um dia,
Morrerei de raiva como um cachorro vagabundo,
Uivando liberdade,
Como um louco na mais pura lucidez
Enquanto vivo,
Excretarei
Porra,
Merda,
Vômito.
Vandalizarei a hipocrisia
Escrevendo poesia.

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Banksi

domingo, 10 de julho de 2011

Cant' beat the feelin' - Banksy

Hackers, parabéns.



Queridos Hackers que invadiram os sites do "governo", parabéns!

Na esperança que um de vocês leia meu blog, torço para que não apenas acessem, mas divulguem para o Brasil e o mundo as falcatruas, tráficos de influência, obras superfaturadas, enfim, divulguem e façam uma campanha contra o maior esquema de corrupção jamais visto neste país!

Pode ser o começo de uma reação à essa quadrilha que mantém o povo alienado com bolsas-anestesias, e saqueiam esta nação com uma avidez despreocupada com punições!

Não passa uma semana sem que surjam escândalos ligados ao "partido da ética e da moralidade na política!", Trinta e oito ministérios para "empregar" os capangas, que, ou perderam eleições, ou precisam de uma "boquinha"...

Denunciem a cooptação de todos os poderes, a evidente falta de governabilidade, com o palanqueiro Lula mantendo em verdade um governo paralelo!

Não esmoreçam! Enviem denúncias para o Tribunal de Haya, sobre os constantes assassinatos de líderes rurais; o abandono das populações indígenas...Enfim, vocês sabem melhor do que eu o caminho da sagrada indignação a ser tomado!

Convoquem marchas de protesto em todo o país! Vocês possuem o domínio de uma tecnologia que pode arrancar o povo e os poucos intelectuais honestos, de uma letargia que termina por ser cúmplice da roubalheira generalizada!

Estamos juntos

Texto: Carlos Vereza
Imagem: Banksy


domingo, 3 de julho de 2011

UMA CANÇÃO


Chove na tarde fria de Porto Alegre, quando Vitor escreveu esta frase com certeza tinha a noção exata do significado de estar aqui no tempo e no espaço do paralelo 30, além de proporcionar uma reflexão mais profunda que a boa música nos oferta, neste frio intenso nos recolhemos ao bucólico clima que nos transporta pelos labirintos que insistentemente construímos em nosso conturbado cotidiano, sim afirmo sofrermos os maniqueísmos da contemporaneidade, não só do ponto de vista climático, mas também existencial.
Não quero passar a imagem de um indivíduo inexoravelmente pessimista, sem sombra de dúvida a arte me conforta e estimula, mas mesmo imbuído dos mais altruístas dos sentimentos por vezes caio na melancolia e como mecanismo de proteção busco refugio no frio, ele é o culpado, claro que quando está frio...
Também poderia enumerar uma extensa listagem de dissabores que afligem nossa sensibilidade, mas sinceramente só queria chamar a atenção de que muitos são os fatores que alteram o comportamento de um indivíduo na dura jornada de percorrer um dia, existir no limite de vinte e quatro horas, sobreviver.
Diariamente acordamos para a nova jornada, curiosos pelos acontecimentos das ultimas horas, na modernidade a vida não para, muitos grupos sociais com diferentes padrões de convívio em relação ao tempo, há os seres da noite, os trabalhadores do dia, os viciados sem dias ou noites, os doentes, os dementes e até os incoerentes que almejam seu lugar ao sol, as metáforas me socorrem, Van Morrison lança aos ares sua visão de vivermos exilados e que nunca retornaremos ao nosso local de origem, quem sabe???
Neste caudal no qual literalmente me sinto acorrentado, neste momento faz muito frio lá fora, aqui me aqueço nos meus subterfúgios tanto físicos quanto imaginários e ataco, quero atingir vigorosamente a imobilidade onde quer que se manifeste, ou por incapacidade ou por má vontade, a toda e qualquer forma de omissão, agora neste exato momento alguém passa frio e fome alguém sofre, alguém é agredido então o sentido de humanidade vai além de conceitos de políticas e se materializa em ação.
Você tem fome de que? sede de que?
Recorrente busco a música do Vitor Ramil e olho o cotidiano, sei que vou embora, nunca mais, nunca mais... chega em ondas a música da cidade... também eu me transformo numa canção, ares de milonga vão e me carregam.
Por aí, por aí...

Texto: André Soares

Foto: James Natchwey

O Tempo de perder tempo


A esta altura dos acontecimentos quando o “grande irmão” é real, ficamos indefesos diante do bombardeio cotidiano dos acontecimentos, enfrentamos querras no oriente, crise na economia européia, a Grécia agoniza, expansão chinesa, ataque aos bancos de dados do governo brasileiro, 200 sites rastreados, frio e incertezas provocam a reflexão num tema recorrente: “o tempo”, as idéias fervilham, ilusão, feitiço, tempo histórico, tempo geológico, tempo real, tantas visões e lembranças,me ocorre Lou Reed inquieto em sua profética canção: “Não há tempo”, vocifera: “Isto não é hora para otimismo, Isto não é hora para reflexões intermináveis, isto não é hora para o meu país, certo ou errado, lembra o que isto trouxe....não há tempo, isto não é hora para agir de forma frívola, pois a hora está tardando...esta é a hora, porque não há tempo”.
Será??!!
Busco socorro na história, onde sempre encontramos alguém perdido em seu tempo, buscando luz ao mistério que nos aprisiona. Jesús Lizano de Berceo , é mais um em seu “Prisioneiro do Tempo”, esgrima seu verso: ...”e nos últimos segundos, os anos, os meses, os dias, e as horas convertidas em ar, e se fecha meus olhos e os rostos sem vida, riam como nunca para todos os abismos do mundo, como eu desejarei seguir o prisioneiro do tempo, como eu amarei na ocasião o tempo...- eu era tempo, doloroso tempo! como eu amei os limites, só eles não estavam mortos, os anos e os meses, os dias e as horas e os minutos, todos os limites do mundo. como me arrancará a eternidade do tempo!”
Bons exemplos para aguçar a imaginação, dispomos de imenso repertório de opções históricas e tecnológicas que diariamente nos impulsionam cada vez mais longe, outro dia lendo que nossa Física já possui um experimento através da “oscilação de neutrinos” afim de resolver o enigma da matéria e a antimatéria, desenvolve-se os computadores químicos, órgãos humanos sintéticos...são tantos avanços humanos, mas ao mesmo tempo convencionamos que o limite da extrema pobreza em nosso país é a monumental soma de setenta Reais ao mês, qual ser humano sobrevive com esta “importância”, paradoxal o desequilíbrio, milhões de seres não acessam os benefícios da atualidade, por quê???
Esgotamos o tempo em nossa atribulada contemporaneidade das mais complexas formas, do fútil ao supérfluo até a profunda introspecção filosófica, quem somos? em que nos transformamos? atingimos o núcleo da menor partícula, mas somos incapazes de minimizar as mazelas da vida, egoístas é quem nos transformamos, ocupamos o tempo satisfazendo nossos sentidos em detrimento da razão, assistindo impunes o mundo pulsando na ponta dos dedos conectados por um mutismo eletrônico.
Perco o sono, esqueço o tempo, a noção de realidade, divagando sobre tantas situações, inadiável enfrentar sem demora estas questões transversais a fim de resolvermos a simples equação do bem viver, o tempo cumprirá seu caminho inexorável, estimula a reflexão, podemos classificá-lo na visão acadêmica numa abordagem meramente técnica, mas encontramos outras visões que afirmam a impermanência das coisas, onde a mutação constante dos seres e de seu meio apresenta sempre a nova faceta por ser descoberta a ser aprendida e aperfeiçoada ou simplesmente aceita.
..........Sinceramente espero não causar mais confusão com este devaneio atemporal, nos resta a certeza de não sairmos ilesos percorrendo a linha do tempo, com tantos antagonismos que considero importante perder algum tempo em deter o olhar, refletir e quem sabe agir pois aqui estamos, então há tempo...

Texto: André Soares
Imagem: do filme Asas do Desejo

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Absurdus, Hardcore


Hoje acordei
depois de uma noite acompanhado de mosquitos e herméticos sonhos que vão além da minha compreensão
Não!
É a realidade irmão...

O denso dia avança para futuro,
o céu é cinza,
o vento transforma a suave dança da fumaça do incenso,
em movimentos Hardcore.

É meio-dia,
o tempo é preenchido
pela sinfonia de uma panela de pressão,
gemidos de uma vizinha em orgasmos,
pedaços do reboco pelo chão.

Na minha paisagem emoldurada,
edifícios vazios
cheios de pessoas anônimas
com suas loucuras,
solidões;
o mundo é um teatro do absurdo!

Hoje gostaria de matar
os idiotas e imbecis que conheço,
mas minha covardia apenas permite mais um poema;
entre poemas
meu fígado fica em conserva de álcool etílico.

Estou sozinho,
o espaço grita,
ouço ruídos pelos cantos,
saio de casa correndo...

Freud chamaria de neurose,
mas é apenas uma reposta para o que queima minha retina,
entope minhas narinas e reverbera em meus ouvidos.

Apesar deste péssimo dia,
encontro em meu caminho
os pássaros em cânticos
em uma árvore nua de outono.

Dissolvem-se assim,
O ódio,
Os ruídos e o desatino...

Poema e imagem: Rodrigo Vargas Souza

terça-feira, 21 de junho de 2011

JOSÉ


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?
E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
Se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?

Poema: Carlos Drummond de Andrade
Imagem: Rodrigo V. Souza

Em breve nos melhores botecos de sua região

sábado, 11 de junho de 2011

Pele, cabelo, farelo e pentelho


Tudo que varro em minha casa é pedaço de mim,
Pelo,
Pele,
Cabelo,
Pentelho.
Tudo que varro em minha casa é pedaço de mim,
Vira poeira,
Passado.
Tudo que varro,
Cai de mim,
Alegria,
Tristeza,
Anarquia!
Tudo que varro de minha casa voa com o vento,
Farelo,
Pentelho,
Cabelo.
E depois de varrer tudo,
Ainda fica seco,
Grudado no chão,
Pus,
Lágrima,
Porra,
Cuspe,
Catarro.
E nas quinas,
Pelos cantos,
Pele,
Pentelho,
Cabelo,
Farelo.
Não importa a ordem,
Estão todos pela casa,
Como a tinta na tela de um quadro abstrato,
E tudo que não voa e não gruda no chão,
Eu mantenho vivo na alma,
Amor,
Arte,
Desejo e poesia (...)


Poema: Rodrigo
Imagem: Pollock

terça-feira, 7 de junho de 2011

Um poema contra Lênin, Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e outras histórias fascistas


Mais um poema pedindo para sair,
De novo estou bebendo,
Sentindo-me pesado e inchado,
Escrevo, escrevo e falta poesia.
Torci para chover, pois o meu Tropicalismo é úmido e frio,
Vou fazer uma busca no Google das casas dos meus antepassados,
Malocas em ruínas luso-indígenas de pau e palha,
No deserto verde que na poeira do carroção deixei o meu sorriso de criança.
Sou Beat tupiniquim criado ao extremo sul do mundo,
Subtropicalista, não confunda com fascista,
Mas apreendi no livro do Caminhas como se faz a globalização maquiavélica.
A minha praia é o Intercionalismo libertário,
Não me restrinja em seu vocabulário,
Não me prenda em nenhum dogma católico!
Minha poesia é capenga,
E meu português errado,
Sid Vicious não era anarquista,
Não confunda com bagunça e com marca de skate.
Sou proletário,
Penso como um,
Contradigo-me, não tenho um pensamento formado,
Porém, não sou pão, não sou massa.
Sou meio, não pela metade, nem partido,
Mas não acredito em Lênin, Papai Noel e Coelhinho da Páscoa,
Só sei que não gosto deste mundo burguês dividido,
Como o objeto,
O objeto humano.
Vivo a flora e fauna,
Perdi-me na pontuação (...)
Insetos voadores,
Sem lenço e movimento,
Voto nulo,
Não me vendo e saio com minha bermuda rota,
Com meu pensamento perfumado de filosofia,
Penso em sexo (...)
Vou mijar e pegar outra cerveja,
O engraçado que nesse mundo é impossível não se contradizer,
Agora escrevo esse poema e o corretor do Word da Microsoft está assinalando o mijar
Clico em cima e lá vem a sugestão de urinar,
Não quero estar num contrato de compra e venda,
Por isto eu só penso em engendrar,
E pense o que quiser,
Eu engendro este poema,
Engendro em você a anarquia!

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Man Ray

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Poemas de Mário Faustino

ROMANCE

Para as Festas da Agonia
Vi-te chegar, como havia
Sonhando já que chegasses:
Vinha teu vulto tão belo
Em teu cavalo amarelo,
Anjo meu, que, se me amasses,
Em teu cavalo eu partira
Sem saudade, pena, ou ira;
Teu cavalo, que amarraras
Ao tronco de minha glória
E pastava-me a memória
Feno de ouro, gramas raras.
Era tão cálido o peito
Angélico, onde meu leito
Me deixaste então fazer,
Que pude esquecer a cor
Dos olhos da Vida e a dor
Que o Sono vinha trazer.
Tão celeste foi a Festa,
Tão fino o Anjo, e a Besta
Onde montei tão serena,
Que posso, Damas, dizer-vos
E a vós, Senhores, tão servos
De outra Festa mais terrena
Não morri de mala sorte,
Morri de amor pela Morte.

O SOM DESTA PAIXÃO ESGOTA A SEIVA

O som desta paixão esgota a seiva
Que ferve ao pé do torso; abole o gesto
De amor que suscitava torre e gruta,
Espada e chaga à luz do olhar blasfemo;
O som desta paixão expulsa a cor
Dos lábios da alegria e corta o passo
Ao gamo da aventura que fugia;
O som desta paixão desmente o verbo
Mais santo e mais preciso e enxuga a lágrima
Ao rosto suicida, anula o riso;
O som desta paixão detém o sol,
O som desta paixão apaga a lua.
O som desta paixão acende o fogo
Eterno que roubei, que te ilumina
A face zombeteira e me arruína.

O MÊS PRESENTE

Sinto que o mês presente se assassina,
As aves atuais nascem mudas
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre homens nus ao sul de luas curvas.
Sinto que o mês presente me assassina,
Corro despido atrás de cristo preso,
Cavalheiro gentil que me abomina
E atrai-me ao despudor da luz esquerda
Ao beco de agonia onde me espreita
A morte espacial que me ilumina.
Sinto que o mês presente me assassina
E o temporal ladrão rouba-me as fêmeas
De apóstolos marujos que me arrastam
Ao longo da corrente onde blasfemas
Gaivotas provam peixes de milagre.
Sinto que o mês presente me assassina,
Há luto nas rosáceas desta aurora,
Há sinos de ironia em cada hora
(Na libra escorpiões pesam-me a sina)
Há panos de imprimir a dura face
A força do suor de sangue e chaga.
Sinto que o mês presente me assassina,
Os derradeiros astros nascem tortos
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre o morto que enterra os próprios mortos.
O tempo na verdade tem domínio.
Amen, amen vos digo, tem domínio.
E ri do que desfere verbos, dardos
De falso eterno que retornam para
Assassinar-nos num mês assassino.

SONETO

Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler

À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano
Desejo de morrer.

Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso

Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.

CARTA A VAN GOGH

Vincent a bala que perfurou seu peito rasgando sua carne me fez chorar por sua dor, você permaneceu sangrando até a chegada desesperada de Theo, talvez ainda não compreenda os motivos, talvez percorra também os mesmos labirintos da alma que o impulsionaram, mas já posso afirmar que aceito sua decisão de dar um basta neste fazer sofrer, como você mesmo falou: a “miséria não acabará jamais”.
Só você é capaz de nos relatar esta monumental força que mora em seu peito, nos oferta a luz liberta o movimento e ao mesmo tempo o mergulha nas sombras obscuras de gênero humano, seria este o motivo do alvo?
Apoteótica é sua arte, mas de antemão sei que sua função é apenas distrair os dissabores permanentes, me faz lembrar a canção que dizia que viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor é uma coisa boa, mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa, hoje vivemos dias de total indiferença de total alienação, o fenômeno transformador do fazer artístico ainda provoca reações, mas esta absorvido por um mercado ávido por inovações.Sabemos que os caminhos da arte para aqueles que lhe dedicam o melhor
de sua capacidade é tortuoso e íngreme, a redenção está no seu exercício, em permanecer o maior tempo possível na sua presença, mas existir no tempo e no espaço cobra suas viscosidades, por isso não te questiono, me preocupa o fato do imenso vazio que sua ausência nos causa.Amigo, você e tantos outros que contribuem para que a humanidade avance em busca de si mesma deveriam ficar mais tempo junto a nós, são seres imprescindíveis, pena mesmo que esta intangível força acabe por nos apartar, então, fica a obra vai o artista, fica a memória sucumbe o homem, mas para os que permanecem sua energia nos impulsiona mais e mais, me permito afirmar que mesmo na dor vale o sacrifício, o objetivo se cumpriu, a luz finalmente atingiu o olhar
dos que tocados por seu calor e sensibilidade aceitam de bom grado cumprir os ditames da arte, do humano, do sensível, do fundamental e inadiável efeito do espírito criador que nos move velozes, ansiosos por atingir o topo e vislumbrar o horizonte, obrigado Vincent por sua capacidade incontida, por seu exemplo, que esteja confortável em seu campo sideral, ainda caminharemos lado a lado, até...

Texto: André Soares
Imagem: V. Gogh

Livre



'' Deixo meu sutien pendurado
meu baton vermelho guardado
e visto uma nova roupa e ponho uma nova cara (...)
E saio deixando meu lugar,um lugar que não é meu
e ponho a mostra um corpo,que não pertence a mim
pertence a fatores externos,contra minha naturalidade

andar descalço é rude
preciso por meu salto alto,para me elevar,ainda não sei aonde(...)

Carrego comigo minha bolsa de couro marrom
escondendo meus mistérios,meus cartões,meus recibos
meus valores (...)
Na minha cintura acorrenta-se um cinto de metal,cuja qualquer silhueta fica fora de um modelo natural,mas o folder me diz que é legal !
Adornos
anéis
relógios,lenços,mantas,luvas
me lembram de tirar a sombrancelha (...) conforme o contorno do meu rosto,é claro!
Preciso usar sempre preto,pois isso me deixa elegante e emagrece....sempre em alta
mas meus pêlos precisam crescer(...)
Meus pés querem andar descalços
minhas unhas não querem cor
meu corpo não quer se prender
e assim sai da garganta um grito por ser livre num mundo que diariamente te diz o que vestir,o que calçar,que cores usar(...)
A moda não embeleza,escraviza!
Temos direito a diferença ,quando a igualdade nos descaracteriza!

Texto: Emm@
Imagem: John Heartfield

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Espanha - Catalunha - Barcelona - 27/05/2011

Manifestações pacifistas

Policia fascista defendendo o estado, as multinacionais e os partidos




Se tens acompanhado as notícias onde moras, num PC, em sites, no Facebbok, no Twitter, nas notícias de jornais grandes, no Brasil e mundo afora, alguma coisa deve estar aparecendo sobre as espontaneas, pacificas e exuberantes manifestaçoes populares, aqui na Espanha.

Hoje é dia de eleiçoes para os cargos abaixo de Presidente e há uma semana ou mais, um certo número de pessoas de repente se deram conta de que nao adiantava votar, tudo ficaria na mesma.

Pra que votar, se nao muda nada??
Foi uma idéia-mae que contagiou as redes sociais pelos computadores. Se espalhou que nem rastilho de fogo em campo seco. Num uuF.

Em Madrid houve até 200 mil manifestantes de vez, especialmente em torno da Porta do Sol, o pessoal foi chegando, uns chamaram outros, o povo acampou ali desde o dia 14 de maio, armaram barracas, trouxeram sofás e cadeiras,colchoes, montaram postos de abastecimento, comunicaçoes, etc.
Em Barcelona as Ramblas voltaram a ser do povo, os turistas só espiavam, interessados...

E ninguém tinha organizado isso antes!
Nao nessa escala. Algumas pessoas queriam fazer uma vigília cívica para pensar e debater alternativas ao quadro político-financeiro, algo assim.
Havia algumas vozes que diziam que assim nao dava, que tinha de mudar, mas daí a juntar um povaréu desses de uma hora pra outra! Sem gastar um tostao em propaganda!

Nenhum partido havia convocado!
Os que protestavam nao apoiavam nenhum partido!

Queriam democracia real - nao a dos banqueiros e do FMI e dos corruptos. Querem outro sistema para suas vidas.

Criaram até um CORRUPTÓDROMO.

As notícias e as imagens eram instantaneas: Facebook, twitter, telefone móvil, etc. Tudo ao vivo. Dá pra ver tudo no computador!!!
As palestras, os debates, as cançoes. Gente de todas as idades. Reunidos para estudar a crise e apontar saídas. Rejeitando votar para escolher o menos pior. Fotos e fotos de gente estudando seriamente.
E o minuto de silencio compartilhado por 25 mil nas ruas, em Madrid, à meia-noite...

O governo ficou abobado e assustado , mas nao arriscou piorar exatamente a situaçao: o Presidente Zapatero nao deixou mais a polícia intervir, depois que na primeira noite a polícia colocou em cana alguns demonstrantes, que só estavam dormindo encostados numa fonte. Esse ato injustificado de prender gente que nao esculhambava, nem resistia a prisao, indignou deveras quem assistiu ao vivo ou pelas nets. Foi o estopim.

Os políticos disseram que eram jovens agitadores, terroristas infiltrados, drogados, delinquentes, desajustados, imigrantes, etc, etc...

Como tudo foi gravado por inúmeros "móveis", logo largado nas nets, a reaçao foi imediata. O nível da indignaçao subiu, mais e mais gente saiu às ruas para comentar o que sucedia.

Os politicos quiseram proibir reunioes populares nas ruas, reunioes que "eles" nao haviam convocado, é claro.
O argumento era que esse tipo de reunioes nao "fazia bem para o sistema de eleiçoes"....

No dia seguinte choveu pra valer, de noite tb, baixou a temperatura pra valer, e o pessoal firme, cada vez chegou mais gente, com frio e chuva.

O Tribunal Eleitoral proibiu as manifestaçoes (que na noite de ontem continuaram ocorrendo na maioria das grandes cidades espanholas, até aqui em Palma de Mallorca). Mas a Constituiçao permite. As praças nunca mais ficaram vazias desde o dia 14 de maio .
E nem o PP nem o PSOE se arriscam a ir abertamente contra essas multidoes. Nao que sejam a favor, o que nao querem é perder mais votos ainda.
Esses sao os dois grandes partidos, sao os grandes responsáveis pela corrupçao e as mazelas sociais destas últimas décadas, nestas plagas.

E como dizia um cartaz: armar barraca para ver Justin Bieber cantar ou e Real Madrid jogar, pode, entao o que há demais em se juntar para reclamar de falta de emprego, de estudo, de futuro para 44% dos jovens espanhois abaixo de 25 anos??

Aqui nas Ilhas Baleares, 60% das famílias nao chegam ao fim do mes com o salário, e aumenta o número das famílias onde nenhuma só pessoa da família tem emprego.

A realidade é negra para mais da metade da populaçao mundial. Nao há esperança de futuro para os jovens, e os velhos devagarinho escorrregam para a pobreza total. Postos de trabalho desaparecem para sempre - neste sistema.
Isso já se vinha dizendo há décadas. Pessoal escutava e achava que com eles nao ia acontecer. Pois está acontecendo.
Pois agora atingiu uma massa critica aqui na Espanha.

Milhares de pessoas se reunindo pacificamente, sem que ocorra um só incidente, sem fazer balbúrdia, respeitando os princípios da nao-violencia! Querendo mudanças profundas no sistema!

Em Bruxelas, Londres, USA, Roma, Berlin e outros lugares (ate SP) houve simpatizantes que também se reuniram para fazer uma vigília de reflexao e meditaçao.

A instantanea capacidade de organizar a turma em setores (limpeza, farmácia, comida, etc) foi aparecendo a medida que as necessidades iam aparecendo. Impressionante. Voluntarios sempre mais se oferecendo para carregar o lixo embora, manter a praça limpa, trazer água, comida, cobertores, enfermeiras e medicos se apresentando para cuidar da pressao, etc, pois há muita gente velha no meio da multidao. E todos sabem que nao estao arriscando a perder mais nada, Já perderam tudo.

Faz sentido: está na hora de sair pra rua e exigir vida decente, pois qual é o futuro para quem está na pobreza ou no desemprego?

Esta mensagem está saindo meio tosca e improvisada, há muitos detalhes que omiti, vcs se colem aos pcs de vcs e descubram adiante. Sites do Guardian, do EL Pais e de outros jornais mais sérios informam bastante, se bem que dá para sentir o dedo do editor apagando o que o repórter gostaria de dizer. Na Face e no Twitter se aprende tudo na horinha.

Nao li ainda como foi ontem, mas ontem no radio a sugestao nas nets era a de que cada pueblo se reunisse, que discutissem seus próprios problemas entre si, se dessem conta das suas realidades - e apontassem para as falhas do sistema, evidentes ali onde moravam, e buscassem juntos por soluçoes.

Piazadinha, que sentimento maravilhoso o de fazer parte conscientemente do acordar de uma naçao - sao cidadaos civilizados e alfabetizados que sabem utilizar a nao-violencia para conseguir os objetivos de mudanças profundas nos sistemas que asfixiam a humanidade. Pelo menos no país deles eles identificam los ladrones instituidos, la estafa, la trampa de los banqueros. E estao cansados disso tudo! Começo a sentir mais esperança. A nao-violencia finalmente alcançou o novo século de maneira natural, fruto dos tempos...



Texto e imagens: CEPS