domingo, 17 de junho de 2012

A casa do poeta sem sombra


Na casa do poeta sem sombra
As roupas do varal estão mofadas
O papel higiênico acabou
As folhas dos jornais agora têm alguma serventia   
Notícias medíocres:
Anúncios de novos investimentos imobiliários
Fotos de uma atriz cult
De certa forma tomaram no cu
O armário bate sua porta desbeiçada
A poeira flutua sobre a superfície dos móveis
O leite coalhado emite um cheiro azedo sobre o fogão sujo
A parede do banheiro encardida
As formigas endoidecidas dentro de um pote de geléia de figo
A úlcera curada na umidade do ar
Latas de sardinhas amontoadas no lixo 
O sol fugindo da janela
O poeta pálido lentamente posiciona a sua cadeira de praia  
No local mais séptico da casa 
Senta com o cabelo lambido para o lado
E com todas as espinhas da cara espremidas   
Começa a recitar poemas para a paisagem
Pausados apenas por goles de conhaque de gengibre     
Sua fisionomia tem um longe de crepúsculo 
Logo as estrelas chegarão
E a garrafa estará vazia 

Poema e fotografia: Rodrigo Vargas Souza 

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