Na casa do poeta sem sombra
As roupas do varal estão mofadas
O papel higiênico acabou
As folhas dos jornais agora têm alguma serventia
Notícias medíocres:
Anúncios de novos investimentos imobiliários
Fotos de uma atriz cult
De certa forma tomaram no cu
O armário bate sua porta desbeiçada
A poeira flutua sobre a superfície dos móveis
O leite coalhado emite um cheiro azedo sobre o fogão sujo
A parede do banheiro encardida
As formigas endoidecidas dentro de um pote de geléia de figo
A úlcera curada na umidade do ar
Latas de sardinhas amontoadas no lixo
O sol fugindo da janela
O poeta pálido lentamente posiciona a sua cadeira de praia
No local mais séptico da casa
Senta com o cabelo lambido para o lado
E com todas as espinhas da cara espremidas
Começa a recitar poemas para a paisagem
Pausados apenas por goles de conhaque de gengibre
Sua fisionomia tem um longe de crepúsculo
Logo as estrelas chegarão
E a garrafa estará vazia
Poema e fotografia: Rodrigo Vargas Souza
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