domingo, 3 de julho de 2011

O Tempo de perder tempo


A esta altura dos acontecimentos quando o “grande irmão” é real, ficamos indefesos diante do bombardeio cotidiano dos acontecimentos, enfrentamos querras no oriente, crise na economia européia, a Grécia agoniza, expansão chinesa, ataque aos bancos de dados do governo brasileiro, 200 sites rastreados, frio e incertezas provocam a reflexão num tema recorrente: “o tempo”, as idéias fervilham, ilusão, feitiço, tempo histórico, tempo geológico, tempo real, tantas visões e lembranças,me ocorre Lou Reed inquieto em sua profética canção: “Não há tempo”, vocifera: “Isto não é hora para otimismo, Isto não é hora para reflexões intermináveis, isto não é hora para o meu país, certo ou errado, lembra o que isto trouxe....não há tempo, isto não é hora para agir de forma frívola, pois a hora está tardando...esta é a hora, porque não há tempo”.
Será??!!
Busco socorro na história, onde sempre encontramos alguém perdido em seu tempo, buscando luz ao mistério que nos aprisiona. Jesús Lizano de Berceo , é mais um em seu “Prisioneiro do Tempo”, esgrima seu verso: ...”e nos últimos segundos, os anos, os meses, os dias, e as horas convertidas em ar, e se fecha meus olhos e os rostos sem vida, riam como nunca para todos os abismos do mundo, como eu desejarei seguir o prisioneiro do tempo, como eu amarei na ocasião o tempo...- eu era tempo, doloroso tempo! como eu amei os limites, só eles não estavam mortos, os anos e os meses, os dias e as horas e os minutos, todos os limites do mundo. como me arrancará a eternidade do tempo!”
Bons exemplos para aguçar a imaginação, dispomos de imenso repertório de opções históricas e tecnológicas que diariamente nos impulsionam cada vez mais longe, outro dia lendo que nossa Física já possui um experimento através da “oscilação de neutrinos” afim de resolver o enigma da matéria e a antimatéria, desenvolve-se os computadores químicos, órgãos humanos sintéticos...são tantos avanços humanos, mas ao mesmo tempo convencionamos que o limite da extrema pobreza em nosso país é a monumental soma de setenta Reais ao mês, qual ser humano sobrevive com esta “importância”, paradoxal o desequilíbrio, milhões de seres não acessam os benefícios da atualidade, por quê???
Esgotamos o tempo em nossa atribulada contemporaneidade das mais complexas formas, do fútil ao supérfluo até a profunda introspecção filosófica, quem somos? em que nos transformamos? atingimos o núcleo da menor partícula, mas somos incapazes de minimizar as mazelas da vida, egoístas é quem nos transformamos, ocupamos o tempo satisfazendo nossos sentidos em detrimento da razão, assistindo impunes o mundo pulsando na ponta dos dedos conectados por um mutismo eletrônico.
Perco o sono, esqueço o tempo, a noção de realidade, divagando sobre tantas situações, inadiável enfrentar sem demora estas questões transversais a fim de resolvermos a simples equação do bem viver, o tempo cumprirá seu caminho inexorável, estimula a reflexão, podemos classificá-lo na visão acadêmica numa abordagem meramente técnica, mas encontramos outras visões que afirmam a impermanência das coisas, onde a mutação constante dos seres e de seu meio apresenta sempre a nova faceta por ser descoberta a ser aprendida e aperfeiçoada ou simplesmente aceita.
..........Sinceramente espero não causar mais confusão com este devaneio atemporal, nos resta a certeza de não sairmos ilesos percorrendo a linha do tempo, com tantos antagonismos que considero importante perder algum tempo em deter o olhar, refletir e quem sabe agir pois aqui estamos, então há tempo...

Texto: André Soares
Imagem: do filme Asas do Desejo

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