domingo, 30 de janeiro de 2011

O livro dos Porquês


Por que nos inquietamos?
Sabem os girinos que hão de perder as suas caudas?
Sabem as galinhas que hão de sair pintos dos seus ovos?
Por que cacarejam as galinhas depois de pôr o ovo?
A clara do ovo faz parte do pinto?
Por que que a fervura amolece as batatas e endurece os ovos?
O ovo respira?
Os vermes respiram debaixo da terra?
As sementes respiram?
Na semente está contida toda a planta?
A relva vulgar dá flores?
Por que que as árvores não morrem no inverno como as flores?
Por que que a luz desbota os tapetes e não desbota as flores?
Por que que a luz não pode dobrar na esquina?
Por que é que dois lados de um caminho reto se encontram ao longe?
Se caminhassemos infinitamente para cima, onde iríamos parar?
É prejudicial o uso de salto alto?
Como é que as moscas podem andar pelo teto?
Por que vemos uma mancha negra no céu depois de olharmos para o sol?
Até onde a nossa vista alcança?

Pra onde vai a água da chuva?
Por que os caminhos ficam cheios de rãs depois da tempestade?
Por que se avista um espaço tão grande de uma janela tão pequena?
Qual é a origem dos pensamentos?
Podemos pensar no que não nos interessa?
Por que nos dói a cabeça?

Por que não estamos nunca satisfeitos?
O que é que faz voar os papagaios?
Por que é que o cão anda em círculos antes de se deitar?
Os cães podem raciocinar?
Por que não grunhimos como os cães quando temos fome?
O cérebro precisa de alimento?
O cérebro do talentoso é maior que o do imbecil?
Por que aprendemos Latim, se é uma língua que não se fala em parte alguma?
Por que faz mais calor na India que no Alaska?
Já se descobriu o mundo todo?
Por que nos parece que os campos se movem quando vamos num trem?
Por que temos tendência a correr pelas encostas abaixo?
Convém ter sempre alguma coisa que fazer?
Por que nos esquecemos de umas coisas e lembrarmos de outras?
Por que não temos tudo o que precisamos?
O que é uma garrafa térmica?
Por que é que as mulheres usam anel de núpcias?
Por que usamos trajes claros no verão e escuros no inverno?
Onde se escondem as moscas no inverno?
Poderiamos ver se não tivessemos cérebro?

Pra onde vai a água da chuva?
Por que os caminhos ficam cheios de rãs depois da tempestade?
Por que se avista um espaço tão grande de uma janela tão pequena?
Qual é a origem dos pensamentos?
Podemos pensar no que não nos interessa?
Por que nos dói a cabeça?

Por que é justo termos medo da morte?
Quanto tempo vivem os animais?
O que é feito do caracol quando morre, que suas cascas aparecem sempre vazias?
Como é que o caracol adquire a sua concha?
Onde adquiriram os pretos a sua cor?
As coisas têm cor durante a noite?
De quem é a cara da lua?
As estrelas realmente caem?
Por que é que a gravidade não arrasta todas as estrelas para a terra?
Poderiamos ser jogados para fora da terra?
Onde iríamos parar se fossemos jogados para fora da terra?
As pessoas que vivem nos polos rodam como piões?
Por que dão voltas os objetos quando caem?
Por que andam os relógios?
Por que varia o preço do pão?
Por que uma língua muda com o decorrer do tempo?
É possível conhecer o futuro?
Voltará a Idade do Gelo?
De onde virão as moscas no próximo ano?
É possivel ver as mais pequenas coisas?

Pra onde vai a água da chuva?
Por que os caminhos ficam cheios de rãs depois da tempestade?
Por que se avista um espaço tão grande de uma janela tão pequena?
Qual é a origem dos pensamentos?
Podemos pensar no que não nos interessa?
Por que nos dói a cabeça?


Texto: Vitor Ramil
As perguntas de "O Livro dos Porquês" foram pesquisadas no livro homônimo dos Tesouros da Juventude.
Foto: Helen Levitt - NY 1940

sábado, 29 de janeiro de 2011

Rabo de Foquete II

Um cheiro de parafina,
Os mistérios da terra do Nei Lisboa,
Um piano mágico dissolvendo-se no tempo,
Enquanto escrevo este momento.
Um baseado queimando nos dedos,
Um sonho de uma cidade mística,
Que era Pelotas, Olinda, Porto Alegre, Floripa!
Eu e você perdido nas ruas disto tudo,
Como um prazer de ter você nua,
Linda como as ondas frias da Joaquina,
Como flores molhadas com o seu imaginário regador vermelho,
E o vento vindo da lagoa batendo na minha face na sacada,
Enquanto o lado B em seu final triunfante faz chiar a agulha.

Para ler ao som de "Para viajar no cosmo não precisa gasolina" - Nei Lisboa
Poema: Rodrigo Vargas Souza

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Vida - Walt Whitman


Vida

Sempre a indesencorajada alma do homem
resoluta indo à luta.
(Os contingentes anteriores falharam?
Pois mandaremos novos contingentes
e outros mais novos.)
Sempre o cerrado mistério
de todas as idades deste mundo
antigas ou recentes;
sempre os ávidos olhos, hurras, palmas
de boas-vindas, o ruidoso aplauso;
sempre a alma insatisfeita,
curiosa e por fim não convencida,
lutando hoje como sempre,
batalhando como sempre.

Poema: Walt Whitman, in "Leaves of Grass"
Retrato: WW

Um Supermercado na Califórnia


Como estive pensando em você esta noite, Walt Whitman,
enquanto caminhava pelas ruas sob as árvores, com dor de cabeça, autoconsciente, olhando a lua cheia.

No meu cansaço faminto, fazendo o Shopping das imagens, entrei no supermercado das frutas de néon sonhando com
tuas enumerações!

Que pêssegos e que penumbras! Famílias inteiras fazendo
suas compras a noite! Corredores cheios de maridos! Esposas
entre os abacates, bebês nos tomates! - e você, Garcia Lorca,
o que fazia lá, no meio das melancias?

Eu o vi WW, s/ filhos, velho vagabundo solitário, remexendo nas carnes do refrigerador e lançando olhares
para os garotos da mercearia.

Ouvi-o fazer perguntas a cada um deles; Quem matou as
costeletas de porco? Qual o preço das bananas?


Será você meu Anjo?

Caminhei entre as brilhantes pilhas de latarias, seguindo-o
e sendo seguido na minha imaginação pelo detetive da loja.
Perambulamos juntos pelos amplos corredores com nosso
passo solitário, provando alcachofras, pegando cada um dos petiscos gelados e nunca passando pelo caixa.

Aonde vamos, WW? As portas fecharão em uma
hora. Para quais caminhos aponta tua barba esta noite?

(Toco teu livro e sonho com nossa odisséia no supermercado e sinto-me absurdo)


Caminharemos a noite toda por solitárias ruas? As árvores

somam sombras as sombras, luzes apagam-se nas casas, ficaremos ambos sós.

Vaguearemos sonhando com a América perdida do amor,
passando pelos automóveis azuis nas vias expressas, voltando
para nosso silencioso chalé?

Ah, pai querido, barba grisalha, velho e solitário professor de coragem, qual América era a sua quando Caronte
parou de impelir sua balsa e Você na margem nevoenta,
olhando a barca desaparecer nas negras águas do Letes?


Poema: Allen Ginsberg

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Oi!


Atualmente passamos por uma farça a qual o governo chama de "Minha casa minha vida", onde são oferecidas residencias com "descontos" , descontos muito difíceis de se conseguir e que excluem a maioria. Será que resolveremos o problema da falta de moradia endividando as pessoas por 25 a 30 anos? Os juros por menores que pareçam fazem com que o "desconto" desapareça ao longo dos anos. Já não basta as dezenas de impostos que pagamos. É necessário explorar ainda mais as pessoas. O governo se afirma cada vez mais como o maior explorador.
Fala-se em uma nova "classe média", essa parece ser a principal cliente desse modelo de exploração imobiliária, enquanto as pessoas mais pobres terão que continuar ocupando locais vulneráveis.
A propaganda é bem diferente da realidade. Para comprovar é só fazer uma simulação junto a um corretor. Para conseguir o desconto total de 17 mil Reais uma família tem que ganhar uma renda média de R$ 1.300,00 e irá pagar uma prestação de aproximadamente R$ 350,00. Conseguirá essa família pagar esse valor? E a comida? Luz? Água? Material escolar? Medicamentos?
Infelizmente ainda veremos muito as imagens de tragédias, não só no Rio, mas em todo o Brasil.

Texto: Luís Fernando S. da Rosa.

Impermanência das coisas


... 4 da matina, não durmo, me afligem os pensamentos, me inquietam conceitos como estoicismo, epicurismo... lembrei deste livro que li faz um tempão, " Da Natureza das Coisas" de Tito Lucrecio Caro nascido no ano 95 a.c., bah ando longe mesmo, regressei ao atomismo, espero poder permanecer ao menos mais um pouco "sonambulando" apesar da inexorável impermanência das coisas...

Pero nada hay más grato que ser dueño

De los templos excelsos, guarnecidos

Por el saber tranquilo de los sabios,

Desde do puedas distinguir a otros

Y ver cómo confusos se extravían

Y buscan el camino de la vida.

Vagabundos, debaten por nobleza,

Se disputan la palma del ingenio,

Y de noche y de día no sosiegan

Por oro amontonar y ser tiranos.

¡Oh míseros humanos pensamientos!

¡Oh pechos ciegos! ¡Entre qué tinieblas

Y a qué peligros exponéis la vida

Tan rápida, tan tenue! ¿Por ventura

No oís el grito de naturaleza,

Que alejando del cuerpo los dolores,

De grata sensación el alma cerca,

Librándola de miedo y de cuidado?

Tito Lucrecio Caro
Texto: parcial de T.L. Caro, introdução: André Soares
Imagem: F. Cascaes

Smetak

"Até que ponto as nossas reações emocionais, os hábitos do nosso ouvido, as nossas predileções, serão para nós uma ajuda ou um obstáculo?"

Walter Smetak

Foto: Rodrigo

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Um Poema Vazio 1


Uma rolha mordida,
Uma dor no peito de desejo sem vida,
Um quadro riscado esperando para ser pintado,
Um livro não lido,
Uma vagina querida,
Uma cadeira mofada,
Uma erva escondida,
Uma flor seca,
Um caule roído,
Um telhado preto de musgo,
Um fusca lembrança,
Uma granja colhida,
Uma louça lavada,
Uma esmola guardada,
Um corpo cansado,
Um amigo não visto,
Um buraco caído,
Um tempo morrido,
Uma dor guardada,
Um câncer nascido,
Um poema vazio,
Um tempo miserável,
Um poema vazio,

Um vazio...

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Fotografia: Jerome Abramovitch

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Rio do Sinos... aqui já teve um rio


Triste rio,

Morto,
Perdido no vale,
Outrora cheio de vida,
Reluzente brilho,
Ausente nos olhos meus.


Vi fotografia em preto e branco,
Mergulhei ali em imaginação,
Apaixonado,
Como gravura,
Fixou em minha memória,
Tua água límpida em meu coração...


Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Herrmann Rudolf Wendroth: O rio dos Sinos em 1852

OBS: Este poema nasceu de meu encantamento após ver uma foto do rio dos sinos, uma imagem muito antiga em que o rio aparece vivo em toda a sua plenitude, não consegui achar a foto, a imagem de Wendroth de 1852 também é encantadorá. Aqui já teve um rio, hoje ele se encontra morto e com ele se foi o meio de existência de centenas de pescadores e de suas familias que durante muito anos viveram deste rio, milhares de vidas de peixes e outros animais encantadores... "É preciso acordar"...

AQUI NÃO TEM RIO


As palavras proferidas por uma menininha vítima do desastre carioca nos remetem a profundas considerações, ela declarou: “Aqui não tem Rio”. Podemos interpretar que no local seguro em que se encontrava estava longe do dilúvio que acometeu a região serrana carioca e dizimou famílias inteiras, mas nossa imaginação nos permite ir mais longe, nós aqui no Sul do país não temos o Rio com todas as suas magnitudes e encantos geográficos que ao mesmo tempo acompanham a dicotomia de suas desgraças sociais que alternam um comportamento festivo e alegre com um de extrema violência convivendo agora com outro de prostração diante da ação da natureza inclemente pela falta de planejamento e pela incapacidade funcional do poder público em responder rapidamente ao desespero coletivo. A sociedade brasileira está mergulhada num caudaloso rio de contradições, do ponto de vista ambiental, saneamento básico precarizado, planejamento urbano caótico resultado da falta de políticas públicas com relação à moradia digna para a população carente, a periferização é um fenômeno social comum na atualidade, as cidades modernas expulsam de seus centros de consumo aqueles que desfavorecidos economicamente e apesar de ser maioria são alijados dos espaços privilegiados. O mar de lama em que afundamos enquanto habitantes desta terra mãe gentil confunde-nos quando enfrentamos a resposta perversa a tanto descaso e agressão. Realmente aqui não tem rio, o que temos é um imenso deserto existencial, no passado mudamos o curso e produzimos este quadro pobre que sobrevive da espetacularização da desgraça alheia, da sensibilidade e solidariedade de muitos e da inescrupulosa monstruosidade de outros tantos que se arvoram sobre doações e bens daqueles que irremediavelmente flagelados pouco podem resistir. Esta na hora de nos definirmos como sociedade e assumir o papel de protagonistas deste cenário que a despeito de ainda vigoroso do ponto de vista natural se afunda desgraçadamente do ponto de vista social. Políticos e políticas mal intencionadas sufocam o bem, milhares manietados e manipulados pela luta da sobrevivência, convivem com alguns já desesperados resistentes que levam a vida de denunciar esta ordem comprometida com o lucro e a intolerância, até quando? É preciso acordar...

Texto: André Soares
Fotografia: Patrick Farrel

sábado, 15 de janeiro de 2011

CONVITE

A COB Confederação Operária Brasileira, em seus 105 anos de história nos traz como legado de um sindicalismo protagonista da transformação social a partir da livre organização dos trabalhadores claramente manifesta desde a realização entre 15 a 22 de abril de 1906 no Rio de Janeiro do Primeiro Congresso Operário Brasileiro onde funda a COB, já no ano de 1913, a despeito de uma tentativa no ano anterior de desviar os rumos do Anarco- Sindicalismo no Brasil acontece de 8 a 13 de setembro o Segundo Congresso Operário Brasileiro no Rio de Janeiro. Em 1920 ocorre de 23 a 30 de abril no Rio de Janeiro o Terceiro Congresso Operário Brasileiro.
Passados 91 anos sofrendo e suportando todas as formas de intervenção e ataques (de seus inimigos), desde a prisão, expulsão e assassinato de seus membros em todo território nacional, até condenar a abstração e miséria moral e material os trabalhadores, produtores de toda a riqueza social, comunica a todas as Seções da AIT, conforme decisão da Plenária Nacional de Julho de 2010, a realização do IVº Congresso Operário Brasileiro em Porto Alegre atual sede do Secretariado da COB/AIT no Brasil.
Congresso a ser realizado em 2011 quando produziremos um novo marco histórico dentro do processo de retomada da organização livre, autônoma e independente dos trabalhadores, iniciado a partir de 1986 com o surgimento na 1ªJornada Libertaria nacional, em Florianópolis do Movimento de Reconstrução da COB, hoje 25 anos após nos encontraremos para definir como organização, nossas táticas e práticas permanentes na defesa do trabalho e dos trabalhadores cumprindo a finalidade de nossas bases de acordo em promover a união dos trabalhadores assalariados para a defesa dos seus interesses morais e materiais, econômicos e profissionais;
O IVº Congresso Operário Brasileiro será realizado entre os dias 28, 29 e 30 de janeiro, é uma conquista da COB na defesa dos princípios que lhe dão base e sustentação desde sua fundação em 1906, estendemos a todas as seções da AIT nosso convite para que cada vez mais lutemos por nos unir e avançar na luta pela Resistência Social contra nossos inimigos o Capital e o Estado. Pelo Internacionalismo Proletário, pelo Federalismo, Pelo Anarco-Sindicalismo, Longa vida a COB, Longa Vida a AIT.


Porto Alegre Janeiro de 2011, Secretariado Nacional da COB.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O Banquete dos Mendigos


Em 1973, no Rio de Janeiro, aconteceu o espetáculo musical "Os Direitos Humanos no Banquete dos Mendigos" para comemorar o 25º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Intercaladas com as apresentações, foram feitas leituras da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Durante as apresentações, os músicos gravaram um álbum duplo ao vivo, proibido durante seis anos pelo regime militar e liberado somente em 1979.”
O LP duplo "O Banquete dos Mendigos" foi gravado em um show no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1973, na sala Corpo-Som.
Segue o link (http://discosdobrasil.com.br/discosdobrasil/consulta/detalhe.phpId_Disco=DI03644) ou digite no google banquete dos mendigos para escutar o disco.

Músicos
PAULINHO DA VIOLA
JORGE MAUTNER
PEDRO DOS SANTOS
EDU LOBO
RAUL SEIXAS
LUIZ GONZAGA JR.
SOMA
JOHNNY ALF
CHICO BUARQUE
MPB4
EDILSON MACHADO
LUIZ MELODIA
MILTON NASCIMENTO
JARDS MACALÉ
DOMINGUINHOS
GAL COSTA

No mais, ficam os versos de Lupiscínio Rodrigues da musica "UM FAVOR"
poetas, músicos, cantores
gente de todas as cores
façam este favor prá mim
quem souber cantar que cante
quem souber tocar que toque
flauta, trombone ou clarim
quem puder gritar que grite
quem tocar apito apite faça esse mundo acordar

domingo, 2 de janeiro de 2011

Assim Caminha a Humanidade.


Madrugada alta, na TV passa um filme com um título sugestivo: “Aprendendo a Mentir”, daqui a pouco ocorre um eclipse total da lua, fenômeno que só irá ocorrer novamente daqui a 92 anos, então esta noite é histórica, muitas coisas me tiram o sono, tenho viajado com muita freqüência ao centro do país, passo por muitos lugares e pessoas, voltei da última viajem com uma convicção consolidada, alimentamos um comportamento social totalmente absurdo e desrespeitoso em relação ao nosso próximo, hoje assistia ao telejornal que mostrava uma briga dentro de um vagão lotado do metrô de São Paulo, o motivo era disputa pelo assento prioritário para idosos e gestantes, nossa, uma senhora alegando não saber ler e nem estar aí pra ninguém foi retirada a tapas por outra mulher indignada com sua indiferença, semana passada no mesmo metrô eu presenciei uma mãe espancar sua filha com extrema violência pelo fato de a criança soltar sua mão e correr poucos metros no vagão desta vez quase vazio. Ah tristemente me vem à expressão, vivemos dias pouco humanos, sustentamos a máquina do capital, nossa vida transformou-se num moto contínuo sempre em aceleração de produzir, consumir, restringir, suprimir nossa emoção, sonhar, mudar talvez? Ao longo da história tantos livres pensadores se manifestaram em relação à vida, tantas teorias, conceitos, paradigmas, quando saciar é nossa ambição, por isso se concebe a saciedade, conjunto de humanos voltados para manutenção do primitivo que habita cada ser, a missão é agir com voracidade em todos os aspectos da vida. Gosto de apresentar alguns dados estonteantes e recentemente num debate fui questionado pelas fontes que estava utilizando, mas se a ONU já não tiver nenhuma credibilidade pouco nos restará, senão vejamos, o planeta contabiliza mais de um bilhão de famintos, a cada cinco segundos morre uma criança de fome, três bilhões de seres humanos não acessam a saneamento básico, no Brasil nos próximos três anos segundo a UNESCO estima-se a morte de 33 mil jovens entre doze e dezoito anos, vítimas da violência urbana, fruto dessa relação desrespeitosa que inconscientemente alimentamos através de nossa omissão coletiva, quando não protestamos, não nos posicionamos diante deste quadro degradado, herança que brindaremos as próximas gerações, salvo a retomada do caminho natural onde existir não seja sinônimo de possuir, onde transgredir signifique ultrapassar limites possíveis e não penalidade legal, tenho perdido o sono em meio a tantos labirintos que meu pensamento percorre, mas o fio do novelo não acabou, acredito no espírito livre, acredito no fenômeno humano, que minha reflexão ultrapasse as barreiras da incompreensão e alcance o coração daqueles buscam como eu um outro tempo, onde haja tempo, um outro dia em que se viva o dia, um novo sonho, que se alimentem os sonhos, é o que espero...

Texto: André Soares
Fotografia: Rodrigo Vargas Souza