segunda-feira, 23 de julho de 2012

Os Anarquistas e as Eleições


As eleições gerais se aproximam, agora para prefeitos das cidades e seus respectivos vereadores. É assim um bom tempo para se fazer uma reflexão sobre a política republicana usual. É um conhecido dito o qual, contudo, é importante se dizer de novo, aquele que afirma que a data cronológica das eleições é o único momento na história da sociedade política que periodicamente o indivíduo mantém relação direta com o poder no modo da autonomia e da atitude decisória: somente ali e só ali o povo é soberano, embora de forma fugaz e instantânea, mesmo segundo uma pacífica e regular periodicidade, mergulhando depois para cerca de quatro anos de total e absoluta heteronomia mesmo no contexto das chamadas democracias modernas.
Por conseguinte, a questão do sufrágio eleitoral está envolvida em um  equívoco fundamental e constituinte, problematizada de  modo profundo.
A pergunta que historicamente o Anarquismo como  teoria e prática faz para si é aquela que interroga: deve-se chamar o voto nulo e rejeitar abertamente o sistema político universalmente em vigor ou integrar o processo eleitoral para não se excluir da realidade histórica do poder e assim evitar o retrocesso que uma omissão declaradamente paradigmática acarretaria?
Essas duas atitudes marcaram contextos históricos intensamente dramáticos, como por exemplo na Revolução Espanhola(1936-1939). Assumindo a primeira alternativa, o Anarquismo hispânico (AIT-CNT-FAI)
fez jus à sua coerência lavrada na autenticidade da luta exclusivamente social, com base na negação aberta da política usual que faz o jogo vicioso do poder. Contudo, essa atitude levaria a perder um espaço político vital cuja abrangência determinaria uma possibilidade de atuar objetivamente nos destinos sociais internos e locais à nacionalidade espanhola em questão. Levando em conta a segunda opção, o chamamento para uma participação aberta e livre na prática política sufragista violentaria um dos mais importantes axiomas apolíticos do movimento libertário, o do voto nulo na sua universalidade o qual, junto com a ação direta, a greve geral e a auto-gestão determinam os pontos vitais da postura de luta histórica e social do Anarquismo. Esse confronto ideológico na base da mentalidade (a-)política libertária parece se dar de um modo decisivo e ocorre contextualizado nas mais profundas raízes da postura anarquista, no embate essencialmente social. A problemática da questão do voto nos sufrágios gerais ainda sinaliza uma última questão radical e historicamente inadiável, a saber, aquela que constata que o voto nulo agiria de tal forma que não impediria que a direita chauvinista ou a esquerda totalitária alcançasse o poder republicano, onde o voto político libertário poderia fazer a diferença: o voto nulo segue acarretando então intensas discussões e sérias dissensões.


João Fortunato

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