quarta-feira, 25 de julho de 2012

Os Guapuruvus mancham a paisagem de cor amarela



Um piano tocado por dedos tortos
Acompanha a chuva cálida
A tinta espessa na tela
Grita em gestos atormentados 
As roupas retorcidas sobre a cama
Cheiram ao excesso do teu corpo
A Sala é abstrata de tantas ausências
O espaço insiste em ser rarefeito de cor 
Hoje o gris deixa o céu denso  
Espalha uma onda de luz branca
(No I Ching só há linhas interrompidas) 
Mas há um cheiro de flor  
Rompendo a concisão do dia 
Mas há um gosto de cor (amarela)
Furando a melancolia...

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Iberê Camargo

segunda-feira, 23 de julho de 2012

UIVO ZINES - DESDE 2001


Por que há tantas dúvidas em um ponto de interrogação?

NÃO SEJA PALHAÇO - VOTE NULO!



"O estado diz que somos todos iguais, vivendo numa democracia, mas diante do soberano supremo, o único digno de comandar, nós todos nos tínhamos tornado iguais, pessoas iguais, isto é, zero. Diante do proprietário supremo, tornamo-nos todos mendigos iguais. É nisso que consiste o tipo de educação e de cultura que pode me dar o Estado: ele faz de mim um instrumento utilizável, um membro útil da sociedade.” (Stiner).

"Conformar-se com o caos social e achar que teremos voz através dos meios ditos “legais” e “democráticos” do estado é a ilusão que o mesmo nos faz acreditar. Ser livre é ter igualdade de voz, ser reconhecido como alguém que tem opiniões e deve participar das decisões que vão interferir em sua vida e em seu meio, garantindo-lhe o que é necessário à vida, sem intermediações ou burocratismos, que têm por objetivo não representar, mas isolar, afastar o povo do poder. Acreditamos na  impossibilidade da liberdade política sem igualdade política. Impossibilidade desta, sem igualdade econômica e social.” (Bakunin).

 “A liberdade política significa que a “polis”, o Estado são livres; a liberdade religiosa, que a religião é livre; a liberdade de consciência, que a consciência é livre e não que eu seja livre do Estado, da religião e da consciência, ou que eu tenha me livrado disso tudo. Não se trata de minha liberdade, mas daquela de uma potência que me domina e me subjuga: um de meus tiranos – o Estado, a religião, a consciência – é livre, um desses tiranos que fazem de mim seu escravo, de tal modo que sua liberdade é minha escravidão.” (Stirner) 

"Liberdade consiste no "desenvolvimento pleno de todas as faculdades e poderes de cada ser humano, pela educação, pelo avanço científico, e pela prosperidade material.Tal concepção de liberdade é "eminentemente social, porque só pode ser concretizada em sociedade," não em isolamento. Liberdade é "a revolta do indivíduo contra todo tipo de autoridade, divina, coletiva ou individual." (Bakunin) 

Os Anarquistas e as Eleições


As eleições gerais se aproximam, agora para prefeitos das cidades e seus respectivos vereadores. É assim um bom tempo para se fazer uma reflexão sobre a política republicana usual. É um conhecido dito o qual, contudo, é importante se dizer de novo, aquele que afirma que a data cronológica das eleições é o único momento na história da sociedade política que periodicamente o indivíduo mantém relação direta com o poder no modo da autonomia e da atitude decisória: somente ali e só ali o povo é soberano, embora de forma fugaz e instantânea, mesmo segundo uma pacífica e regular periodicidade, mergulhando depois para cerca de quatro anos de total e absoluta heteronomia mesmo no contexto das chamadas democracias modernas.
Por conseguinte, a questão do sufrágio eleitoral está envolvida em um  equívoco fundamental e constituinte, problematizada de  modo profundo.
A pergunta que historicamente o Anarquismo como  teoria e prática faz para si é aquela que interroga: deve-se chamar o voto nulo e rejeitar abertamente o sistema político universalmente em vigor ou integrar o processo eleitoral para não se excluir da realidade histórica do poder e assim evitar o retrocesso que uma omissão declaradamente paradigmática acarretaria?
Essas duas atitudes marcaram contextos históricos intensamente dramáticos, como por exemplo na Revolução Espanhola(1936-1939). Assumindo a primeira alternativa, o Anarquismo hispânico (AIT-CNT-FAI)
fez jus à sua coerência lavrada na autenticidade da luta exclusivamente social, com base na negação aberta da política usual que faz o jogo vicioso do poder. Contudo, essa atitude levaria a perder um espaço político vital cuja abrangência determinaria uma possibilidade de atuar objetivamente nos destinos sociais internos e locais à nacionalidade espanhola em questão. Levando em conta a segunda opção, o chamamento para uma participação aberta e livre na prática política sufragista violentaria um dos mais importantes axiomas apolíticos do movimento libertário, o do voto nulo na sua universalidade o qual, junto com a ação direta, a greve geral e a auto-gestão determinam os pontos vitais da postura de luta histórica e social do Anarquismo. Esse confronto ideológico na base da mentalidade (a-)política libertária parece se dar de um modo decisivo e ocorre contextualizado nas mais profundas raízes da postura anarquista, no embate essencialmente social. A problemática da questão do voto nos sufrágios gerais ainda sinaliza uma última questão radical e historicamente inadiável, a saber, aquela que constata que o voto nulo agiria de tal forma que não impediria que a direita chauvinista ou a esquerda totalitária alcançasse o poder republicano, onde o voto político libertário poderia fazer a diferença: o voto nulo segue acarretando então intensas discussões e sérias dissensões.


João Fortunato

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Segundo Tempo - O idiota sou eu


Quarta-Feira, dia 05 de julho de 2012




Mais um dia idiota com pessoas medianamente idiotas. O assunto mais interessante do dia entre postagens idiotas é um jogo de futebol idiota, transmitido exclusivamente por uma emissora idiota. A idiotice poderia ser pior, mas acabei em um boteco com um monte de bêbados; realmente, pessoas pouco interessantes para um mundo de relações virtuais e falsas. Ainda sim, muito melhor que o facebook, Kant (que era um recalcado) e Shakespeare (que todo mundo tem que gostar). Mas para mim não importa nenhum pouco o jogo idiota transmitido por uma emissora reacionária (para ser razoável). Também não tenho a pretensão de escrever um poema ou qualquer coisa classificado como gênero literário. Mas tenho que registrar a diversidade; a diversidade de um boteco com um monte de bêbados como eu vendo uma partida de futebol. Ser torcedor de um time é uma experiência próxima de um partidarismo nacionalista, progressista, socialista, nazista ou fascista, ou seja, partido ( parte = sustentabilidade do sistema capitalista). Mas aqui na ilha barroca de Cascaes a heterogeneidade é um suruba antropológico. Resumo: eu bebendo uma cerveja, vendo um pescador cheio de rugas e historias na cara empinar seu martelo ácido. Um torcedor com camisa do Avaí (não identifique para quem torcia) falando sobre as finais do Boca Junior. Um Cearense, torcedor do Corinthians falando que era um jogo de favelados. Um cara soltando peidos com a camisa da escola de samba campeã dos últimos três carnavais da cidade. Uma mesa de quatro jogadores de domino (em pleno marasmo, parecendo que estavam no passado) e um monte de garrafas majestosas na parede, etc. Parei para escrever este texto no intervalo de um jogo de futebol... Mas escrever para o mundo atual é uma idiotice tão grande que prefiro apenas viver... Lá vou eu para o segundo tempo...


Texto e Imagem: Rodrigo 

Ação Direta - Sindivários Kanoas - FORGS - COB - AIT


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Lápis 6B




Segunda-Feira
Faz frio
Ele sai com seus sapatos pesados
A mesma calça rota
E um casaco de veludo dos anos 80
No bolso
No lugar dos documentos, celular e cartão de crédito
Um walkman com uma fita de Stravinsky   
Um lápis 6B
E um pouco de dinheiro
Pouco, mais o suficiente para preencher a solidão do dia
Senta na mesma mesa revestida de papel Kraft
Pede uma taça de vinho bordô para o mesmo garçom cansado
No qual nunca trocou uma palavra
Toma o vinho com notas acentuadas de vinagre
Calado
Começa a traçar linhas tortas na mesa
Definindo sua arquitetura vazia
Preenchida apenas de calungas fáticas
Após algumas horas
Deixa a mesa nua
O copo com a solidão
E entra em sua madrugada
Habitando os espaços defeituosos da rua
As pessoas cegas vêem apenas ele sozinho
Pulando no meio do nevoeiro
Zombam de sua loucura
Mas ele com indiferença dança 
Dança com suas calungas 


Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Rael Brian


domingo, 1 de julho de 2012

Caminhando ao meu lado


           
            Parei, faz algum tempo que a intensidade dos dias com suas diferentes situações e principalmente a variedade dos tipos humanos com que me encontro passaram a exigir um momento de reflexão, entregar-se ao convívio do pensamento tornou-se inadiável, o mosaico vai se formando na memória resgatando os detalhes, lembro-me da vila com captador solar para aquecer a água do chuveiro de suas casas maltratadas dos moradores tristes e por vezes desesperados por sua situação das diferentes reações, da comunidade convivendo com a “boca de pedra” com a sexualidade aflorando como subterfúgio para as necessidades do momento da indiferença de muitos, em minha jornada retorno a cidade centenária escavada na montanha margeada por um rio cristalino, sobrevoo a histórica cadeia de montanhas rasgando o céu com seus cumes pontiagudos cercados pela neve, as casas ainda esburacadas pelas balas de uma guerra longínqua que nos legou suas marcas para sempre, chego cansado ao interior do Brasil com seu minério riquíssimo com a escravidão ainda presente, as plantações de café a cachaça, tantas lembranças... Até ancorar na praia paradisíaca feliz por ter retornado.
             Passo horas percorrendo meus próprios labirintos, perdi o novelo há algum tempo, mas penso que não me perdi, recentemente fui obrigado a limitar velhos hábitos, por favor, não pretendo escrever uma confissão ou um diário a princípio meu objetivo é extrair da memória a vida em suas nuances sua variedade sob o olhar limitado e ainda honesto do errante em que me transformei.
            Conheci pessoas íntegras, outras nem tanto, artistas, sonhadores, lutadores, sofredores e até enganadores, neste exato instante escuto uma música ou será a memória atuando, e compondo seu cenário, são ecos não sei bem, serão as tais reminiscências? Ouço o som alto e claro, não enlouqueci pelo menos no meu critério, para vocês nem ouso perguntar, estou sim mergulhado na busca em ordenar os pensamentos em meio a tantas difusas e complexas imagens que a mente projeta nas paredes da lembrança...
            Existirmos ao que será que se destina... Estão ouvindo? É esta canção que martela meu cérebro, até respeitei as regras do português, coisa que abomino, que merda de língua a nossa cheia de limitações e armadilhas, mas voltando a viajem lembrei-me de um fim de ano que passei caminhando com uns amigos percorrendo cinquenta quilômetros até a Praia da Onça na Lagoa dos Patos saímos no final da tarde do dia trinta e um chegando ao amanhecer do dia primeiro, bêbados, sujos cansados e felizes, vencemos o desafio, ah! A música não cessa, permanece ecoando, é uma alegoria de imagens e sons, mas acredito que encontrei uma resposta plausível para o meu questionamento interior refletimos em nossa trajetória as escolhas feitas, seguramente estamos a construir nosso mundo cotidianamente como me lembrou uma filósofa próxima e muito querida, somos construtores e erigimos nossa pirâmide existencial com base no aprendizado ao longo da vida para tanto nos basta prestar atenção na sequencia e ordenar as coisas conforme nossa prodigiosa memória nos acena.
           Agora sou assaltado pela euforia, a trilha acelerou e se transformou num pulsante Rock, ouço estupefato Crosby Stills Nash & Young tocando “Carry On” que traduzindo significa “siga em frente”, então, se não devemos parar que as sombras do passado permaneçam enquanto sombras que o brilho do futuro ilumine o presente conforme Alejandro González Iñárritu em seu perturbador “Babel” lançou quase que imperceptivelmente, estamos diante “a mais intensa claridade na mais profunda escuridão” ultrapassando a prisão do tempo para além dos limites da memória libertando a existência e o essencial: “o humano intocado que habita em nós”...
Texto: André Soares
Imagem: Rodrigo Vargas Souza