Assistia a pouco ao monumental filme “Agonia e Êxtase” de 1965, narrativa magistral da relação conturbada entre Michelangelo e o Papa Júlio II deflagrada durante a pintura da Capela Sistina, o artista que a princípio recusa a missão se entrega com vigor até o esgotamento físico e emocional na execução daquela que é uma das maiores obras primas do mundo, ato de amor a arte e devoção ao espírito livre que não se rende ao poder imposto a força, travando uma batalha entre temperamento e liberdade artística. Charlton Heston e Rex Harrison nos brindam com interpretações marcantes, mas na verdade ancoro meu pensamento no cinema me valendo de sua inspiração e passo a percorrer os labirintos em que a mente vaga em meio a tantos assuntos palpitantes, nova crise econômica global provoca previsões alarmistas de norte a sul, focos de insurreição por todo o lado, bombardeios na Faixa de Gaza, morte, respira-se a futura Copa do Mundo no Brasil onde o Governo Dilma cambaleia diante de escândalos que estão se transformando em epidemia, quando corrupção, tráfico de influencia e enriquecimento ilícito são os adjetivos do poder.
Também aprendi recentemente que possuímos um colchão de liquidez que até então nem sabia de sua existência e utilidade, parei e fui ver do que se tratava, pois então descobri que nossa pujante economia aconchega-se numa confortável reserva cambial a fim de garantir tranquilidade nos dias bicudos de intempéries promovidos pelo ataque do capital especulativo que age voraz sobre os sistemas financeiros mundo a fora. Nossa gorda reserva de pelo menos 1 trilhão de Reais funciona como um cordão de isolamento aos efeitos de um agravamento maior da crise internacional, garantir as exportações a abalança comercial interna estável em meio ao consumismo desenfreado é a missão de nossos técnicos e políticos na área econômica, cuidando para não cair no “empoçamento de liquidez” (situação em que o dinheiro fica parado nos bancos, sem circular na economia).
Não pensem que “pirei” tentando entender a mecânica do mercado internacional, afirmo que “ainda” não, minha tentativa é a de demonstrar que na realidade todos nós sustentamos esta ficção de títulos do tesouro, dinheiro compulsório ou dólares de reserva que apesar das cifras astronômicas são cobertor bem curto ao trabalhador que levanta na madrugada, vai e volta enlatado ao seu emprego, quando o tem, para garantir o “sal árido”, que não lhe permite mais do que simplesmente continuar respirando,
Por fim me dirijo à Semiótica (do grego semeiotiké ou "a arte dos sinais"), que se detém ao estudo do significado ou representação de determinadas manifestações, na natureza, na cultura, conceito ou idéia, deleita-se em todo o processo humano cientificamente, servindo aos eleitos do alto da sapiência acadêmica, sinceramente não quero passar a idéia de um sujeito rancoroso, mas, por favor, prestem atenção aos sinais, me sinto agredido com todo este formulismo, são tantas óticas, tantas elaborações e seus maniqueísmos, daí relacionar colchão de liquidez com a Semiótica minha agonia e o êxtase extraído da arte onde os sonhos não envelhecem, onde de tudo se faz canção até repousamos o coração na curva de um rio, quando não há nada que se possa fazer melhor que sonhar sabendo que o pior já passou e podemos de tudo querer, e sem dúvida lá viver é melhor...
Texto: André Soares
Imagem: Detalhe da mão de David de Michelangelo
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