terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A VALORIZAÇÃO DO DESVALOR

Valor é uma palavra que contém em si mesma significação, qualidade, sustenta o peso psicológico que implica talento, merecimento, préstimo, valentia, e num aspecto material o preço a ser pago por uma coisa, sua estimação, valia, a relação entre objeto e moeda. Para Jean Piaget “O homem vive, toma partido, crê numa multiplicidade de valores, hierarquiza-os e dá assim sentido à sua existência mediante opções que ultrapassam incessantemente as fronteiras do seu conhecimento efetivo. No homem que pensa esta questão só pode ser raciocinada, no sentido em que, para fazer a síntese entre aquilo que ele crê e aquilo que ele sabe, ele só pode utilizar uma reflexão, quer prolongando o saber quer opondo-se a ele num esforço crítico para determinar as suas fronteiras atuais e legitimar a hierarquização dos valores que o ultrapassam. Esta síntese raciocinada entre as crenças, quaisquer que elas sejam, e as condições do saber, constituí aquilo que nós chamamos uma "sabedoria". O cidadão brasileiro contemporâneo está envolvido em uma crise de valores, do subjetivo ao objetivo, constatamos que perdemos o norte como nação, estamos passivos, o únicos caso que provoca reações veementes é o futebol, onde dependendo dos resultados as torcidas dos clubes, país afora, oscilam do comportamento de amor incondicional a violência extrema, o custo de vida, o transporte urbano das grandes metrópoles, os postos de saúde ineficientes, a violência urbana somadas a corrupção e usura da classe política não causam o mesmo furor. As manifestações sociais através da cultura da arte e da educação apresentam resultados preocupantes. Constituímos a pasteurização intencional dos processos de criação e produção artística e cultural em todos os campos, alicerçado numa indústria organizada para conferir valor ao que definitivamente não possui valor, vivemos de fenômenos midiáticos que surgem da noite para o dia, o semi analfabeto que joga futebol maravilhosamente, o filho do artista famoso que vira cantor e escritor de abobrinhas, a cantora que passa a vida rebolando e sua garganta é facilmente encontrada em seus quadris, ritmos voltados a sublimação do medíocre e superficial fazem a apologia do fácil e enganador, desconstroem a história da música, não falo de eruditos, falo dos populares que ergueram o mosaico musical nacional. Sofremos a intervenção dos departamentos de mídia das agencias de publicidade, que através das grandes “holdings” da comunicação determinam o comportamento social e suas manifestações. Desvalor é a palavra que nos apresenta a melhor definição deste processo, contabilizamos 53 milhões de seres humanos vivendo na extrema pobreza neste Brasil varonil, analfabetismo funcional, mão de obra desqualificada, o parco apoio institucional a pesquisa e a baixa qualidade da educação geram este quadro caótico e transformam o cidadão comum em presa fácil para esta indústria que inescrupulosamente ecoa aos quatro cantos “consuma e não pense”, também não fale e se falar que seja bobagem, se cantar, cante o último funk pérola da poesia, se vista na moda underground, balance ao som mais massificante e pobre recentemente lançado, e fique prostrado diante da TV espiando a insensatez humana em rede nacional para desespero e dor de todo artista de todo ser sensível que ainda acredita que neste buraco negro que nos encontramos existe saída, lembre-se do profeta Chico: Levante-se há um líder dentro de você, que em sua visão messiânica sentencia: a cidade se apresenta centro das ambições, para mendigos ou ricos e outras armações, coletivos, automóveis, motos e metrôs, trabalhadores, patrões, policiais, camelôs. A cidade não pára, a cidade só cresce, o de cima sobe e o de baixo desce a cidade não pára, a cidade só cresce, o de cima sobe e o de baixo desce. A cidade se encontra prostituída por aqueles que a usaram em busca de saída... Vou lembrando a Revolução.
Mas há fronteiras nos jardins da razão.

Texto:André Soares

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