terça-feira, 25 de setembro de 2012

Poema: Esclerose, Gastrite e Cirrose


O vento arrebenta os prendedores
Telhas
Trincadas
Tensas
Penso no poema de Rimbaud  tatuado em tua coxa
Amanhã os pássaros se masturbarão com tuas roupas intimas
Não será pelo pano
Quem sabe pelo resto pubiano
Pelo cheiro
Eu faço o mesmo  
Um filme mudo
Surdo
Zomba de mim
Eu cuspo nele com minha esclerose   
Preciso sempre de um pouco
Um hoje
Para acalmar a gastrite e a cirrose  
Um silêncio febril
Uma fumaça de carne e osso
Impregnada na lã  
Na sala    
Uma música sem som
(4’33” de John Cage)
Um pandeiro
Sem volume  
Quero ouvir a nudez do vento
No cume  
Sou o outrem
Que risca a pele de nanquim
Preenche a goela de vinho
Violenta as paredes pálidas fora de prumo           
E guarda o gemido e o gozo
Nos chakras
No corpo úmido (de suor)
Expõe o aço à ferrugem
Como um gosto azedo no beijo 
E azeda o mofo e o resto que há de tempo
Perdido 

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Miguel Chiakoaka

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